Acho que sou uma bússola… e como tal, aponto teimosamente o mesmo ponto cardial… O Norte! E tu? Se eu sou uma bússola, tu és o meu ponto cardial, és o meu Norte! Para onde quer que vá, eu sigo sempre essa orientação… essa vontade de te ter, que é sentida em qualquer ponto do planeta!
Quando caminho, todas as outras direcções, que não a tua, me parecem promessas de viagens sem rumo. Sinto-me desnorteada, mesmo sabendo onde estás, meu Norte.
De repente uma duvida… Mas o que é o Norte?
- “Ponto cardeal que fica para o lado da estrela polar.”
Sigo, então, na direcção de uma luz pertencente a uma estrela que, secalhar, já nem existe…
Cansada da falta de rumo dos meus pensamentos olho pela janela do comboio… Esbarrando-me com tufos densos de nuvens que me escondem o azul do céu, detenho-me a apreciar alguns dos raios de sol que rompem o tapete branco de água em suspensão… Começo a pensar se a tua nuvem não me anda a fazer perder muitos raios de sol!
Subitamente, o comboio para! Pouso a cabeça e fico a olhar o mar. A sua agitação parece comungar com o turbilhão de ideias que me assaltam. Subindo o olhar... Ah! As nuvens... parecem deslocarem-se tão rapidamente! Fecho os olhos várias vezes fazendo um esforço de focagem e… sim… não é ilusão… As nuvens movimentam-se para Norte!
Como gostava de conseguir perder o Norte… perder-me, criando a ilusão de que tinha contrariado todo o teu magnetismo, virando-me para outros pontos da tão imensa rosa dos ventos… Pura ilusão, o meu ponteirinho é tão frágil… tão fraco, que não consegue evitar-te! Entristeço-me ao saber que existem tantas outras direcções para onde poderia apontar… tantos outros universos que poderia explorar… Desespéro, luto, rodopio sobre mim mesma,acabando sempre por ser vencida… Só no Norte o meu ponteirinho tem paz... Só em ti minha alma tem paz...
Curioso pensar que rumei a Sul para encontrar o meu Norte! E agora, passado um ano, o que mais queria era perdê-lo! Ah! Como preciso perder o Norte! Transcender-me, ultrapassar-me… Procurar uma nova direcção para minha triste existência. Quero recrear-me... ter um outro referencial que não esse de Norte e Sul, de pouco ou nada!
Não posso deixar de sorrir ao pensar que toda este "fluir de pensamentos" começou com a capa d“A Bola”(do dia 16 de Abril) que um velhinho lia, atentamente, numa das minhas viagens de Sul para Norte:
“Não Percam o Norte”
… e tudo o que eu mais queria era perdê-lo!
ss