5 de dezembro de 2004

Flutuações

Uma inexplicável nostalgia fez-me olhar para o meu blog e ver nele reflectidas algumas das emoções que agitaram a minha vida neste (quase) ultimo ano. Foi bom ver como tanta coisa mudou e como tanta outra ficou na mesma… Tenho flutuações escritas para diferentes nuvens, até porque as nuvens passam com o vento… e já vivi grandes tempestades. Mas todos os ventos que passaram não foram suficientes para acabar com uma pequena casinha de madeira, junto a uma árvore (onde um dia quiseste escrever o nosso nome e eu não deixei), que sobrevive sempre. Não é a casa dos meus sonhos, nem sequer é muito confortável… Mas nunca caiu, nenhum vento foi capaz de a destruir… Está com um aspecto cuidado, mas não é habitada, está fria.
Decido entrar. A medo empurro a porta... É só um quarto… a janela está fechada e as frinchas da persiana deixam entrar só um pouquinho de luz. Sento-me no fundo da cama e fico a tentar perceber o que há de diferente neste quarto… Fico a relembrar um outro quarto, numa outra casa que, apesar de toda a força que fiz para a manter de pé, caiu…
Descubro que a diferença não está no quarto, mas no tempo… que não volta. E se voltar, encontrará pessoas diferentes...

ss

1 de dezembro de 2004

Crónicas Enson(h)adas

Acordei com o vento a empurrar a tua janela. Espreitei o relógio: ainda era cedo... O teu quarto era invadido por raios de sol que passavam através das frinchas da persiana. A luz, ainda muito ténue, era suficiente para que (te) pudesse ver. Recordo-me percorrer o teu perfil... de decorar todos sinaizitos da tua cara... Sei de um que me fez sorrir! Lembro-me de adorar todas essas pequenas (im)perfeições... Nunca te disse mas foi nesse momento que me apaixonei por ti. Foi nesse dia que todas as minhas defesas se renderam à evidente certeza de que eras a pessoa mais bonita do mundo... para mim!! Fiquei a ouvir-te respirar e a ver o lençol elevar-se, muito levemente, a cada inspiração tua. Tive vontade de te acordar só para te dizer o quanto gostava de ti... mas não o fiz. A incerteza do teu sentimento fez-me temer parecer ridícula. O meu medo de me dar voltou e fez-me virar para o outro lado da cama. Fechei os olhos. Pensei que precisava de aproveitar as duas horas de sono que me restavam. Mas o sono não vinha. Pensei em nós... ou na possibilidade de um "nós". Imaginei-nos apaixonados.......... Virei-me para ti e sussurrei ao teu ouvido: Amo-te... Fechei os olhos e adormeci. Só muitos dias depois me apercebi que essa tinha sido a primeira (e única) vez que tinha dedicado essa palavra a alguém... Ainda que a minha cobardia nunca me tivesse permitido dizer-to directamente, a verdade é, que nunca antes tinha sentido, sequer, a necessidade de o dizer a ninguém.

Hoje, ainda muitos mais dias depois… Exactamente 52 dias depois de ter escrito estas palavras, continua a vontade de te dizer… não que te amo… mas que te amei… E dizer-te como me sinto triste, porque sempre acreditei que amar só me aconteceria uma vez.

ss

28 de novembro de 2004

Porto Doce

Acabei agora de chegar a casa... Tive uma das minhas noites mais divertidas desde os últimos meses... E não, não precisei de uns stilletos de dez centímetros nem do desconforto de um decote que passo a noite a vigiar. Não houve blush, rimel... Era só eu. Olhei-me uma última vez ao espelho antes de sair (velhos hábitos) e, como sempre, achei-me feiíssima... Enfim, nada de anormal! E lá fomos tomar o nosso café (onde nunca nenhum de nós bebe café) à gelataria de sempre... Porto Doce. E então, por entre crepes e gelados, vem o relatório semanal de cada um... Sempre sonhei que íamos estudar... morar todos juntos!! Ironia da vida... cada um escolheu uma cidade diferente. Talvez seja essa distância kilométrica que faz cada um destes encontros ser, a cada vez, mais "doce"...

Foi numa destas noites que ouvi... "Quando estamos mesmo apaixonados temos uma imensa necessidade de o dizer, e ele(a) e aos outros... O sentimento é tão grande que não o conseguimos guardar só para nós!"

Relembro a grande discussão desse dia: so eu insistia na possibilidade de "esconder" um grande sentimento...

ss

6 de novembro de 2004

ég gaf ykkur von sem varð að vonbrigðum.. þetta er ágætis byrjun

O que tem inglês se pode traduzir como: "I gave you hope that became a disappointment.. this is an alright start."

E em português como: "A história da minha vida!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!"

ss

31 de outubro de 2004

É tão bom voltar!

Voltaram as tardes húmidas e tristes que me fizeram criar este blog. Voltou o frio, a chuva... Aqueles momentos adoráveis de duas miúdas em cima da cama, os olhos fechados, os pés em cima do velho aquecedor a óleo... e a partilhar um gelado ao som de Sigur Rós no volume máximo!! As sessões de filmes até as cinco da manhã, com as pipocas, as mantinhas quentinhas com aquele padrão de xadrez vermelho, a lareira acesa... É tão bom voltar!!

Em duas semanas as árvores envelheceram... o caminho que antes era verde, agora está repleto de tons de castanho. Há pedaços de folhas a esvoaçar por todo o lado. É por isso que eu gosto tanto do Outono... também eu gostava de me espalhar assim... Talvez dessa forma me conseguisse encontrar...

Em duas semanas mudou tanta coisa!! Mas continuo a construir-me e.... hoje sinto-me tão mais EU! Como é bom voltar...

ss

15 de outubro de 2004

Egoíte Aguda!!

Só hoje me apercebi do tamanho do meu egoísmo... Bolas!!! Tem sido tão grande que sufocou qualquer possibilidade de (sequer) conversarmos sobre os TEUS problemas! Combinavas encontros... e eu despejava as minhas tormentas, duvidas, exigia-te uma opinião... pedia ajuda, chorava... preocupava-te... Tudo isto sem nunca te perguntar se estavas bem... se te apetecia ouvir-me, se precisavas de alguém!!

Como pude faltar à pessoa que esteve SEMPRE lá!! Que NUNCA me disse um não... que ficou noites inteiras a aturar as dúvidas existenciais desta doida. Agora vejo que, no fundo, tenho tudo para ter uma vida fácil e feliz... mas que teimo em complicar!

Perdoa-me por nunca me ter preocupado, seriamente, contigo... Perdoa-me... E lá volto eu a pensar só em mim!! Não, não me deves perdoar... Eu falhei! É certo que não sabia o que se passava... mas também não procurei saber! Oh... Falhei de forma tão feia e egoísta!

ADORO-TE!! Este Post é para ti, PEDRO FILIPE FERREIRA (Ernestu), que me ajudaste a pôr este blog, tal qual eu o queria... Que me seguraste de pé quando (quase) caí!...

Quebrei o luto... é esta a homenagem, merecida, mas não suficiente... que há muito já devias ter recebido!! Prometo melhorar...

SS

9 de outubro de 2004

Experiencias II

Há uma pequena luz... muito ténue, que te faz despertar. Não te sentes! Queres abrir os olhos, mas os teus músculos, não respondem. Precisas tanto saber onde estás... saber se , realmente, foi o fim... ou se te deste uma outra (quem sabe a última) oportunidade! Ouves vozes a tua volta...e, uma a uma, vais reconhecendo cada uma das pessoas que te rodeiam. Estão tão perto, quase dentro de ti!? Vais recordando, em imagens breves, os melhores momentos que tiveste com todas elas... As fugas de casa as 4 da manhã para ver as estrelas! As noites passadas na rua a tentar imaginarmo-nos daí a 20 anos. As primeiras chuvas de Outono a que não fugimos.... os cabelos molhados! As viagens... as noites mal dormidas... os temporais. Veneza!! As melhores festas. Os segredos guardados para sempre... os beijos escondidos... as confissões. O primeiro beijo completamente apaixonado, rendido... Os olhares, a amizade... a paixão... e quem sabe o amor?
É tudo tão precioso... tão inesquecível, que uma enorme vontade de continuar invade cada célula do teu corpo... Vais voltando a ti, tão lentamente que tens tempo para saborear a cada pedaço da luz que voltas a ver. Encontras-te. O local é familiar... mas continuas a sentir-te tão perdida! Tenho o que preciso... mas sinto falta de ti. Quem és tu? Não quero nada, mas sinto falta de quase tudo. Paro... Não quero cair outra vez. Não me deixo cair de novo, mas é tarde... já me perdi de mim!!! Vou deambulando por caminhos conhecidos e cansados de serem palmilhados... Sabes que por estes trilhos não encontras nada do que procuras... mas afinal o que é que eu procuro??? Procuro-me, procuro-te...

Recordo... "Silvinha, a felicidade é algo que se constrói, não podes ficar a espera de ser feliz se nunca fizeres algo por isso!".

E eu fiz! Eu tenho procurado... indagado... Talvez este seja o verbo errado... A minha vida tem sido um procurar... e talvez deva ser um construir! Mas será que posso construir-te? Ou devo construir-me para um dia estar a altura de te encontrar? E se precisar de ti para me construir? E se não existires... se já te deixei escapar... se nunca te conhecer?

Hoje é o primeiro dia desta construção... Partimos do zero mas não há limite...

ss

3 de outubro de 2004

Experiências I

Depois de tanto tempo, de tantas linhas rasgados ou guardados em gavetas fundas… (daquelas onde pomos tudo que queremos esquecer mas que não temos coragem de eliminar), parece que as palavras voltaram a fazer sentido… Ou talvez não…Talvez só agora tenha encontrado coragem para reagir a uma verdade que no fundo sempre soube.

As vezes precisamos ir ao fim do mundo para aprender dar valor ao que sempre esteve aqui bem pertinho!! Dar uma volta inteira sobre nós próprios… experimentar dias áridos como um deserto, em que o silencio nos sufoca e só temos por companhia uma imensa solidão… Ficar deitada a olhar um sol que te parece consumir, secando todas as possibilidades de te encontrares! Esperar… desesperas!! Deixas escapar uma lágrima que não chega a cair… eleva-se num corpo transparente que vai iniciar um novo ciclo. Cerras os olhos e rolam mil outras nuvens de tristeza, que, sem dares por nada, provocam uma tempestade tropical! Experimentam-se, então, dias de turbulência, em que ventos adversos sopram a restiazinha de esperança que ainda não tinha escapado. Cai uma chuva que te trespassa... Ficas à chuva… horas e horas… Sentes uma incompreensível felicidade… Sorris! Sorris ainda mais quando te apercebes que já não o fazias à tanto tempo!! Abres os braços e rodas, tentando fugir as gotas de chuva… cada vez mais escassas! Olhas em volta, procurando algum olhar reprovador, mas não há ninguém, só uma lua gigante que te faz sentir pequena, tão pequena… quase insignificante! Paras de rodar… sentes o corpo a deixar-te… tentando rodar num outro sentido. É o fim!?
Deixas-te cair…

ss

9 de agosto de 2004

Hoje sonhei...

Será que sonhei?

SS

7 de agosto de 2004

Pequenas Perfeições

"... E de novo acredito que nada do que é importante se perde verdadeiramente. Apenas nos iludimos, julgando ser donos das coisas, dos instantes e dos outros. Comigo caminham todos os mortos que amei, todos os amigos que se afastaram, todos os dias felizes que se apagaram. Não perdi nada, apenas a ilusão de que tudo podia ser meu para sempre."


Miguel Sousa Tavares (...a propósito da perda da sua mãe, Sophia de Mello-Breyner)

3 de agosto de 2004

Andanças 2004


Oficialmente de férias!!!!
Volto sexta feira ***

SS

30 de julho de 2004

O melhor por do sol de sempre...




SS

25 de julho de 2004

¿Antigravidade?

Depois de varias insistências… aqui está, não a explicação, mas a inspiração para o título deste blog:

Summer Romance (Anti-Gravity Love Song)

I'm home alone tonight
Full moon illuminates my room, and sends my mind aflight
I think I was dreaming up some thoughts that were seemingly possible
With you

So I call you on the tin can phone
We rendezvous at a quarter-two, and make sure we're alone
I may have found a way for you and I to finally fly free

When we get there, we're gonna go far away
Making sure to laugh, while we experience anti-gravity

AN – TI – GRA – VI – TY!!

For years, I kept to myself
Now potentialities are bound, and sleeping under my shelf
Simply choose your destination from the diamond canopy
And we'll be there

So I call you on the tin can phone
We rendezvous at a quarter-two, and make sure we're alone
I may have found the way for you and I to finally be free

When we get there, we're gonna go far away
Making sure to laugh, while we experience anti-gravity

AN – TI – GRA – VI – TY!!

Incubus (S.C.I.E.C.E.)

SS

24 de julho de 2004

Vazios

Já não vejo a fita... Não a sinto! Entristeço-me e adormeço sem a cor rubra, agora esbatida por pincel chamado solidão.

Ss

10 de julho de 2004

"Vai ficar tudo bem!"

Não conseguia adormecer… pensava no grande dia que me esperava ao acordar! Fechava os olhos com força, pensado que dormindo custava menos. Mas a imaginação não tem limites e eu via-te... abandonado num comboio, cheio de gente indiferente! Via o teu olhar perdido de quem tem a responsabilidade de cumprir um sonho… Determinação não te falta… mas ainda és tão pequenino, tão frágil! Abro os olhos e percorro todo o quarto! Como será esta casa sem ti?
Quem é que me vai acordar as 8 da manhã de domingo só para dizer que está a dar um programa na TV sobre os “Caças da Segunda Grande Guerra”? Quem é que vai telefonar a meio de um exame para me informar que encontrou um gatinho paraplégico…e que ta a minha espera para eu pagar a consulta do veterinário? Quem é que me vai telefonar todos os dias porque está com saudades… do meu portátil!!!
Fui ver-te a dormir… sempre tão sereno!! Fiquei ali, sentada no fundo da cama, tentando suster as lágrimas que caíam em catadupa. A respiração começou a ser mais forte… os soluços mais altos! Acordaste.
- Oh mana! - deste-me aquele abraço! Secaste as minhas lágrimas e sossegaste-me com teu sorriso…
- Vai ficar tudo bem, prometo-te!

SS

13 de junho de 2004

Comparações....

Lembro-me hoje de uma tempestade que quase mudou a minha vida… Uma trovoada que se abatia sobre a cidade de Roma e que me envolvia num profundo querer mais de uma relação quem nem imaginava que fosse possível… Nem foi… ou foi? O medo que tinha daqueles relâmpagos contrastava com coragem, talvez loucura, de entregar a minha alma a alguém que me tinha já feito sofrer tanto. (…) Passaram quase dois anos e continuo a não saber explicar todo aquele “sentimento”... Arrependida? Só de não ter tido (aí sim) coragem para lutar por ele, de o ter deixado morrer!

Desta vez não houve trovões, não houve coincidências … Não houve explicação! Só vontade… uma profunda vontade que não fui mais capaz de combater! Um sentimento que não ME consegui ocultar durante mais tempo… Uma mentira que se desfazia em mil e um pedaços, deixando a nu uma possibilidade em que nunca quis acreditar!
Nessa noite não houve chuva, nevoeiro…não houve lágrimas:
Adormeci embalada pela batida, tão calma, do teu coração. Olhei-te uma vez mais antes de me perder na imensidão inconsciente do meu son(h)o… tinhas um breve sorriso de serenidade que me invadiu e me acompanhou no ultimo cerrar de pálpebras daquele que tinha sido um dos melhores dias da minha vida!

SS

11 de junho de 2004

Eu sei... como é bom estar só!

"Estar só torna tudo mais fácil...não é mais que ouvir teu coração....."

...

Não é normal!!
" Saltei do vazio que afinal é bem mais...´
... E vim cair num mundo igual..."

SS

6 de junho de 2004

Tempestades

Hoje acordei vazia…. Vazia de ti… vazia de mim! Totalmente aterrorizada luto para me libertar dos lençois que me parecem prender… Sinto-me sufocada!! Hoje preciso de voar… libertar-me, ultrapassar-me… reinventar-me! Preciso encontrar-me! Tenho vontade de gritar, de me partir, de me esgotar… Tenho vontade de me esborrachar contra uma parede qualquer… sentir uma dor aguda a percorrer cada milímetro do meu corpo, aumentando gradualmente até que me seja impossível guardar as lágrimas! E chorar, chorar até que tudo em mim esteja cansado… até que toda a minha energia esteja esgotada… até que o meu coração quase pare de bater! E então... sentir o meu corpo a lutar… lutar por mim, por tudo aquilo que ainda preciso viver, sentir, saber…
Quero ser escutada, quero ser agarrada, admirada, beijada, incluída, completada, amada… sentida!! Quero sentir que não morri… quando morreu o meu amor por ti!

ss

3 de junho de 2004

Fala-me um pouco mais... Era tão bom ficar!

Nunca pensei que não dormir fosse tão bom... Só gostava de ter passado a segunda noite acordada a ouvir-te falar... És tão diferente daquilo que esperava para mim... mas tão inesperadamente envolvente! Demasiado marcante!

Dedico a ti o melhor momento da queima:

"eu não sei o que me aconteceu
foi feitiço... o que é que me deu!
pra gostar tanto assim de alguém...
como tu!!"

SS

1 de junho de 2004

Voltar a ti!

Acordei sobressaltada as cinco da manha…. Estava um calor abafado… custava a respirar! Ainda estava a tentar perceber porque é que a cadela ladrava tanto, quando um enorme estrondo fez abanar toda a casa….
AAAhh! Como eu odeio estas tempestades de "Verão". Os trovões seguiam-se uns aos outros… secos, estalantes, pareciam rasgar tudo por onde passavam! Cerrei os olhos e encolhi-me por baixo dos lençóis! Mas os estrondos sucediam-se…
Num impulso levantei-me e corri para o teu quarto. Estavas sentado na cama e tinhas a janela aberta… como sempre!
Sempre fui mais corajosa que tu! Era eu que ia bater nos meninos que te roubavam o skate… que subia ao telhado para ir buscar as bolas…
Mas da trovoada…. Brrrr!!! Morro de medo!
Deitei-me ao teu lado, agarrei-te com toda a força que tinha…
- Pensei que isso já te tinha passado!? (hum esse teu sorriso maroto!)
- Pois… também eu! – Respondi , decerto com uma expressão de absoluto terror porque te abraçaste a mim com tamanha vontade que quase sufoquei!
- Oh mana, anda p’a varanda como fazíamos dantes!?
Antes que pudesse ter qualquer reacção arrastaste-me embrulhada no edredão! Ficamos os dois a ver os raios a rasgar o negro cerrado do céu…
Olhei-te sem dares por nada… Estavas absolutamente maravilhado com a toda aquela força indomada... É tão bonita essa tua expressão de prazer: percorrias todo o céu com os binóculos tentando prever onde seria o próximo relâmpago. Mordias o lábio… por vezes sorrias sem razão aparente… Sentia-te exaltado, ansioso… absolutamente envolvido!!
Eu…Eu tinha uma das mais estranhas sensações…um misto de terror e fascinação que me proporciona uma imensa paz! É incrível como só consigo conjugar este tipo de sentimentos quando estou contigo! És o meu catalizador… o meu equilíbrio… a minha força… Arriscaria a dizer que és a minha vida! Adoro-te Pedro!

ss

23 de maio de 2004

Encontro-me a flutuar...

Aos amigos que vêm a este blog à procura de um pouco de mim, peço mil desculpas pela falta de notícias!
Durante quase um mês voltei ao meu cadernito... e eis que quando ia publicar todas a minhas linhas para tudo perdeu o sentido! Como se alguém tivesse baralhado todas aquelas palavras dando-lhes um sentido totalmente oposto.

Tenho o corpo num rebuliço... as sensações trocadas... a minha mente voa liberta pela imensidão da vida.........

Deixem-me pousar e voltarei a escrever!

ss

25 de abril de 2004

O meu 25 de Abril

Este é desde sempre o meu feriado favorito… Cada Abril tem sido diferente mas, desde que partiste, tento vive-lo da mesma forma entusiasta e orgulhosa com que te via encher a casa de cravos vermelhos...
Recordo com emoção o primeiro 25 de Abril depois de teres morrido:

Decidida a partilhar contigo este dia, que teimávamos em passar juntas, rumei ao cemitério… Pelo caminho dei-me conta que nunca mais lá tinha voltado desde aquela tarde chuvosa de 26 de Dezembro. Curioso como ainda me recordava tão bem do local onde te vi pela última vez... Olhei então o arranjo de flores que alguém teria depositado sobre a tua campa. De imediato me veio à memória a frase que tantas vezes tinhas repetido:
- Quando eu morrer, não quero que me levem flores…
- Oh Vó…., não digas isso (refilava sempre eu)
- É um pecado apanha-las para alguém que nunca as vais poder apreciar! As flores são para estar na terra, para nascer, viver e morrer na terra….
Fazia-me então prometer-lhe que nunca lhe levaria flores… Alias, dizia-me sempre que depois de morrer não precisava que ninguém a fosse visitar!
Mas eu, nesse 25 de Abril não cumpri a promessa… Fui visitar-te, e na mão levava um cravo vermelho! Troquei o arranjo de flores murchas pelo cravo. Sentei-me ao pé da tua lápide e olhando o presente que acabava de te oferecer, lembrei-te:

Recordei como me punhas ao teu colo, e me dizias que não sabia apreciar a liberdade que os todos aqueles heróis tinham conquistado para o povo! Todas aquelas caras que fazias questão que soubesse: o Otelo, por quem tinhas uma admiração extrema… O Salgueiro Maia que dizias ser o maior herói que Portugal tinha gerado… E tantos outros que a Revolução não deixou mais que se escapassem da memória do país. Relembrei, enternecida, a forma como me ensinaste todas as músicas de Abril… O teu olhar maroto sempre que me abrias o baú onde, dantes, escondias os livros proibidos, mas que todos lá em casa teimavam em ler… E como me orgulhava de ti quando me contavas ter passado a tarde do 25 de Abril a fazer rissóis e pasteis de bacalhau para os soldados, que, no Quartel-general do Porto, faziam a Revolução…. E as flores que foste roubar ao cemitério para que os soldados do Porto também as colocassem nas espingardas…
Já entardecia quando consegui parar todo esse rio de memórias… Lancei um último olhar sobre o cravo e despedi-me de ti com o maior sorriso que consegui….

Hoje resolvi repetir a experiência de há três anos... Fui visitar-te e comigo levei três cravos. Três, pois são também esses os anos de saudade de ti!

De regresso a casa, sento-me no sofá….
- Ah! Como me orgulho do nosso país, Vó… Como me orgulho de ser tua neta (bisneta, aliás). Mas… será que, algum dia, serei capaz de dar o devido valor às conquistas que Abril e tu me trouxeram???

ss

24 de abril de 2004

Uma Questão de Orientação

Acho que sou uma bússola… e como tal, aponto teimosamente o mesmo ponto cardial… O Norte! E tu? Se eu sou uma bússola, tu és o meu ponto cardial, és o meu Norte! Para onde quer que vá, eu sigo sempre essa orientação… essa vontade de te ter, que é sentida em qualquer ponto do planeta!
Quando caminho, todas as outras direcções, que não a tua, me parecem promessas de viagens sem rumo. Sinto-me desnorteada, mesmo sabendo onde estás, meu Norte.
De repente uma duvida… Mas o que é o Norte?
- “Ponto cardeal que fica para o lado da estrela polar.”
Sigo, então, na direcção de uma luz pertencente a uma estrela que, secalhar, já nem existe…

Cansada da falta de rumo dos meus pensamentos olho pela janela do comboio… Esbarrando-me com tufos densos de nuvens que me escondem o azul do céu, detenho-me a apreciar alguns dos raios de sol que rompem o tapete branco de água em suspensão… Começo a pensar se a tua nuvem não me anda a fazer perder muitos raios de sol!
Subitamente, o comboio para! Pouso a cabeça e fico a olhar o mar. A sua agitação parece comungar com o turbilhão de ideias que me assaltam. Subindo o olhar... Ah! As nuvens... parecem deslocarem-se tão rapidamente! Fecho os olhos várias vezes fazendo um esforço de focagem e… sim… não é ilusão… As nuvens movimentam-se para Norte!
Como gostava de conseguir perder o Norte… perder-me, criando a ilusão de que tinha contrariado todo o teu magnetismo, virando-me para outros pontos da tão imensa rosa dos ventos… Pura ilusão, o meu ponteirinho é tão frágil… tão fraco, que não consegue evitar-te! Entristeço-me ao saber que existem tantas outras direcções para onde poderia apontar… tantos outros universos que poderia explorar… Desespéro, luto, rodopio sobre mim mesma,acabando sempre por ser vencida… Só no Norte o meu ponteirinho tem paz... Só em ti minha alma tem paz...

Curioso pensar que rumei a Sul para encontrar o meu Norte! E agora, passado um ano, o que mais queria era perdê-lo! Ah! Como preciso perder o Norte! Transcender-me, ultrapassar-me… Procurar uma nova direcção para minha triste existência. Quero recrear-me... ter um outro referencial que não esse de Norte e Sul, de pouco ou nada!

Não posso deixar de sorrir ao pensar que toda este "fluir de pensamentos" começou com a capa d“A Bola”(do dia 16 de Abril) que um velhinho lia, atentamente, numa das minhas viagens de Sul para Norte:
“Não Percam o Norte”
… e tudo o que eu mais queria era perdê-lo!

ss

Tarde de Primavera

Tal como uma árvore hoje, despontei... Não devido a ti. Não devido ao sol. Mas sim porque um amigo me deu o calor que precisava para voltar escrever. Voltei a tirar os pés do chão, continuando o voo à descoberta da tua nuvem, que no fundo é também a minha! E desta tarde solarenga e sem nuvens retiro uma lição...
A vida, a minha vida, tem sentido! Não porque procuro a tua nuvem, mas porque tenho um imenso céu de coisas que preciso descobrir... entre elas, o valor que uma amizade tem!!!

Obrigada M.

ss

25 de janeiro de 2004

Gostava de ser uma árvore...

O nevoeiro ainda não levantou… mas já sigo ver, claramente, a silhueta de uma árvore despida…Os ramos desenham uma teia por entre o branco da nuvem que se abateu sobre mim. Olhando mais em pormenor consigo decifrar uma ou outra folheca que teima em permanecer… Gostava tanto de ser uma árvore de folha caduca… Como era bom começar todos os anos de novo:
…todas as Primaveras, pequenas folhinhas, verdes muito verdes, brotavam dos meus ramos quase secos… depois, quando as pequenas folhas ainda cresciam…surgiam-me flores por toda a parte… pequenas, rosadas e muito frágeis, bamboleavam-se ao sabor do vento, perdendo uma ou outra pétala… E o seu cheiro, tão doce, suave… espalhava-se por uma vasta área chamando a mim uma imensidão de seres!!! Quebrava-se assim a solidão de uma estação… Com o calor vinham os frutos, cuja doçura alimentava todos aqueles habitantes de Verão que me ajudavam a enviar, para longe, pequenas cópias de mim…Chegava o Outono!! Vestia-me cheia de cores diferentes e…uma a uma, deixava cair cada folha, sem medo, sem pena… pois cada uma sentia o dever cumprido de trazer vida aos meus ramos secos e sós. Sorte das folhas… levadas pelo vento, visitavam lugares que nunca vi…voavam mais alto do que eu posso ser…e… (aquelas mesmo sortudas) acabavam num qualquer livro, perpetuando-se até que, alguém mais descuidado, as deixasse cair e desfazer-se em mil pedacinhos… Após tanta azáfama, quem não gostaria de descasar um pouco… e, afinal… O Inverno passa tão rápido!!!

Gostava mesmo de ser uma árvore!!! Se o fosse sabia que, depois do Inverno viria a Primavera… sabia que, depois da solidão viria a companhia…
Mas não sou… sou uma pessoa onde o Inverno já dura à muitos meses… onde a solidão é a única companhia… A nuvem grossa e triste que me envolve teima em não subir… Preciso do teu sol, do teu calor… preciso do teu amor para poder despontar desta invernia…

ss

20 de janeiro de 2004

Nevoeiro...

Numa manha de Inverno, algures por entre o nevoeiro, dei comigo a tentar imaginar um vulto de um tal D. Sebastião que me vinha salvar desta apatia...
É então que, vago momento de lucidez, me apercebi que já era demasiado crescidinha para acreditar nessas fantasias... Desiludida como o meu pragmatismo ocorreu-me criar um blog...
Um local onde pudesse escrever tudo aquilo que não te posso dizer... ou posso... Não posso!!!
Como gostava que lesses cada palavra que prometo escrever... Como gostava que fosses o tal D. Sebastião e me viesses salvar da dor de não te ter...

promete-me que vais ler...

ss

 
Site Meter