14 de dezembro de 2005

Minha querida:

Há muito tempo que pensava escrever-te uma carta. Um texto que sei que nunca poderás ler, mas que me ajudará a perpetuar todo este sentimento que nutro por ti.
Pego no meu cadernito, desço as escadas e vou sentar-me ao teu lado. Desajeitada acabo por te acordar. Elevas os olhos para ver quem acaba de chegar. Levantas-te e ficas parada sobre as tuas patinhas traseiras. Pouso o caderno e ponho as duas mãos em volta do teu focinho. Tens os olhos mais ternos que já senti. Perlongo-me na tua face… percorro depois todo o teu corpo, agora tão magro. Estás tremula, fria.
Para me recordar dos velhos tempos abro as pernas e dou duas pancadinhas numa delas. Sinto-te a desdobrar, tropegamente, as patinhas traseiras e dando duas, talvez três voltas sobre ti própria, acabas por te prostrar bem juntinho a mim. A tua cabecinha fica pousada na minha perna direita e o teu corpo estendido entre as minhas pernas. Afago-te as orelhas enquanto te vou dizendo palavras doces. Sei que não as entendes, mas acho que percebes quando te falo com carinho. Não consegues compreender o significado das minhas palavras mas podes senti-las! Vais ficando mais tranquila, sinto a tua respiração a acalmar e a tosse já não é, agora, tão frequente. Também sinto que ficas mais quente.
Adormeces.
Uma vez li que os cães não dormem verdadeiramente; nunca atingem estados de profunda tranquilidade o que, supõem-se, não permite ao seu cérebro desenvolver-se mais. Mas tu estás a dormir. Profundamente! Ouço as tua respiração acompanhada de outros sons… acho que ressonas! Sorrio e fico a lembrar-me de todas as vezes que, como hoje, te deixaste adormecer, comigo. Só comigo.

Já vivemos tantas aventuras juntas. Relembro cada uma das vezes que fomos ao Gerês: quando chegávamos à parte mais difícil do trajecto, aquela que serpenteava a montanha, ela ficava com a boca semiaberta e com o corpo mole. Quando encostava o nariz frio à minha face já a adivinhava.
- Pai... pára o carro! – Em menos de um minuto já estava na berma da estrada por entre vómitos e soluços. Depois ficava a olhar para todos, procurando reprovação. A língua percorria-lhe todo o perímetro do focinho, ora para a direita, ora para a esquerda, como se nos quisesse dizer:
- Tenho sede!
Vou à mala do carro e tiro a garrafa de água que tem no rótulo o seu nome. Nunca me esqueço dela! Tem um bocal mais fino e vai lançando água em pequenas lufadas que ela consegue beber. Quando fica satisfeita afasta-se e corre para o carro, instalando-te, confortavelmente no seu lugar. Passa o resto da viagem sentadinha e com o focinho meio de fora. Adoro vê-la assim! As orelhas abanam freneticamente com o deslocamento do ar e sente-se nela um prazer enorme pelos novos cheiros que vai detectando.
Enquanto era ainda um bebezinho foi, uma vez, connosco até uma pequena praia fluvial do rio Douro. Nesse local o rio é estreito e facilmente atravessável. Sempre que iniciávamos uma viagem ela vinha, atrapalhada, atrás de nós! A meio da viagem acabava sempre por ser preciso transporta-la. Recordo-me de me virar de costas e de a pousar na minha barriga enquanto nadava lentamente para não a deixar cair! Quando me aproximava da margem eleva-a num dos braços e enquanto me propulsionava com as pernas usava o outro braço para manter a cabeça à superfície. Ela ia estranhamente calma, confiante! Como se tivesse a certeza de que eu nunca a largaria.
Recordo também, numa dessas viagens em família, quando o meu irmão decidiu fingir que se afogava. Ela estava na margem, deitadinha na toalha que eu lhe tinha estendido... Quando ouviu os gritinhos dele e o som das mãos a chapinharem na água voou para o rio e nadou com uma energia que nunca lhe tinha visto. Quando chegou ao meu irmão cravou-lhe os dentes num braço puxando-o para a superfície. Absolutamente impressionante!! O meu irmão não se apercebendo bem do que se passava lutava para se libertar, mas ela agarrava-o ainda com mais força. Com a minha ajuda viemos os três para a margem. Ela lançou-se então ao meu irmão lambendo-lhe toda a cara… e os braços. Só nesse momento percebemos o que se tinha passado e prometemos nunca mais brincar com assuntos sérios.
Relembro as doenças, os dias maus. Perco a conta às horas tão longas que passamos, sempre juntas, no veterinário; aos pontos que todos os dias desinfectava, até que os pudesse retirar. Os comprimidos que, com paciência, te fazia engolir; a comida que, muitas vezes, tive de te dar à boca; as sessões intensas de fisioterapia que tantas lágrimas provocavam, às duas… Todos estes são momentos que guardo, meticulosamente, na memória.

Acordas.
Por entre murmúrios incompreensíveis levantas-te e encaras-me. Os teus olhos tocam profundamente nos meus e ficamos assim, como que a decorar-nos. Há quase três anos que só temos o fim de semana para partilhar e desde então passamos muito mais tempo a sentirmo-nos...
Fazes-me tanta falta!! És a minha companheira dos dias tristes. Quando éramos as duas mais novas, costumava correr para ti cheia de lágrimas. Conversava contigo: fazia mil e uma perguntas… propunha mil e uma respostas. Não me ajudavas com palpites ou concelhos, mas olhavas-me cheia de ternura e, muitas vezes, lambias as minhas lágrimas. Colocavas o teu focinho húmido na minha testa e ganias ao som dos meus soluços, como que a tentar dizer-me que partilhavas a minha dor. Eu adorava ficar ai, no teu colo, como costumava dizer-te. Abraçava-te com força e sentia o teu coração a bater até que as nossas respirações se alinhavam.


Hoje, já é tarde na noite mas vim-te acordar porque estou cheia de tristeza. Corre-me nas veias uma sensação de revolta que me faz mal, que me torna vazia e rude… seca! Cada vez é mais difícil observar-te o olhar… Está a ficar mais pálido, embranquecido com as cataratas que não permitem que eu possa ver o brilho que dantes tinha. Percorro o teu focinho com o meu dedo... Deste a ponta fria, atravessando os olhos até atingir o topo da cabeça. Agora já não piscas os olhos. Os teus reflexos estão lentos e já me conheces os hábitos… sabes que não te vou ferir. Encostas a cabeça ao meu peito e agarro-te com mais força. Não seguro mais as lágrimas e começo a soluçar!
A época de Natal está, para mim, associada a acontecimentos demasiado tristes que me fazem viver um natal diferente de todos as outras pessoas. Nesta época, qualquer problemazinho que me possa afectar é, por mim, agravado… tomando quase o tamanho e a força destrutiva de um tsunami.
Levantas a cabeça, e como já não fazias há muito, secas as lágrimas que me descem pela face. Primeiro encostas o focinho à minha bochecha esquerda, depois à direita, sempre com uma ternura que só encontro em ti. Olho-te mais uma vez antes de pousares a cabeça no meu ombro. Ficamos assim, longos minutos, enquanto vou reflectindo sobre meu dia… sobre as importantes decisões que havia tomado essa tarde, sobre as palavras erradas, e as acertadas.
- Sabes, minha querida… já me tinha esquecido de como é bom “falar” contigo! – digo-lhe baixinho.
São 5 da manhã… o sono começa a vir, e não lhe quero resistir. Pego nela ao colo e coloco-a na sua caminha. Cubro-a com a mantinha quentinha que lhe comprei para este natal, e enquanto lhe afago as orelhas mais uma vez, peço-lhe que não se esqueça da promessa que um dia a fiz fazer:
- Não te vais embora sem mim!!! Prometeste!
Dou-lhe um último beijo de boa noite, e penso: “és uma cadela maravilhosa”!!!

ss

4 de dezembro de 2005

É destes momentos que somos feitos...

Saio do restaurante. Abandonado, numa pequena poça formada pela abundante chuva de Novembro, jaz um cravo. Detenho o olhar no vermelho que contrasta com todos as cores mornas de um dia triste... Cada pingo faz pequenos círculos na água que reflecte imagens retorcidas de gaivotas num fundo cinzento de nuvens.
- Toma!
Enquanto me perdia nas sensações de mais um dia pálido, levantaste o cravo do chão, e sem que eu me apercebesse, já o tinha na mão.
- Achas que a avó votaria no Soares?
Sorrimos os dois num abraço cúmplice de sabor a saudade... que não passa, que não dói! Mas que nos une na mais bonita memória que sabemos viver.


ss

26 de novembro de 2005

Coisas Simples

"Regressamos sempre aos velhos lugares onde amámos a vida. E só então compreendemos que não voltarão jamais todas as coisas que nos foram queridas. O amor é simples, e a vida devora as coisas simples."

Manuel Alegre


Percebem agora porque é que eu gosto de complicar tudo!!

ss

20 de novembro de 2005

Takk...

Baixa-se a cortina, começam os primeiros sons: é o início de uma viagem pelo imaginário de um paraíso islandês… Em tons de amarelo podemos ver um vulto que usa um arco de violoncelo para retirar os mais belos sons de uma gitarra eléctrica. Começamos a flutuar... recordo pequenos momentos de vida, da minha vida, acompanhados por estes quatro rapazes: Sigur Rós. “Fecha os olhos, e sente” – Ao meu lado tenho um grande amigo. Aquele que descobriu, comigo, a melhor banda do mundo, do nosso Mundo! Enrolou o braço do meu pescoço, encostou a cabeça na minha e ficamos assim, até ao fim daquela música que nos aqueceu na viagem até Estrasburgo. Recordo a nossa noite em Paris, passada entre shots de vodka, segredos… e muito, muito Agaetis Byrjúm. E o cheirinho dos nossos crepes “ô nutelá” as 5 da manhã.
“Isto é lindooo” – digo-te, já com os olhos molhados pela felicidade!De repente mais uma música que eu amo, e outra e todas elas se revelam peças de arte capazes de me fazer sentir leve, tão leve que me posso elevar e voar por cima de todas aquelas pessoas, rodopiando num imaginário só meu. De olhos fechados vejo tudo azul, muito azul.
Azul de uma felicidade imensa que transborda por entre os dedos das mãos que já nem sinto de tantas palmas. Vejo petalas de rosa por entre pirilampos que iluninam uma noite sem lua, envolvendo-me até que se confundem com estrelas. Há sorrisos de crianças a correr e uma doce ilusão de que tudo é tão simples e fácil. Aquela voz tão limpa vai crescendo e corroi as ultimas preocupações de mais um dia... abrindo um ( parêntese ) na realidade. Inspiro e sinto o cheiro, tão bom, de uma tarde de praia, num dia cinzento e húmido… E o meu coração bate, bate... bate com força, ao ritmo acelerado da última musica…


Takk… lê-se no palco!

Takk” é Obrigado, e é isso que eu sinto, uma enorme gratidão por poder viver um concerto como este!!

ss

19 de novembro de 2005

Madrugada

Esta é uma daquelas noites em que gostaria de ter o poder parar o relógio… Gostava que cada minuto pudesse durar uma eternidade. Uma eternidade daquelas que se perpetua pelas sinapses que constroem a pessoa que eu sou. Cerro os olhos com muita força, até sentir que uma das pálpebras está quase encavalitada na outra… e vou guardando esse teu meio sorriso, para o poder lembrar “a vida inteira”.
Lá fora os pingos de chuva tornaram-se mais densos e o barulho característico da água a bater no vidro molda o nosso ambiente… que é completado por um “takk…” de melancolia. E agora sim, estamos prontos a flutuar numa história que ninguém sonhou. O temporal agudiza-se e agora quase que posso jurar que as folhas rodopiam ao som da nossa música, como que a acompanhar a dança do meu coração. E com a calma de quem tem minutos intermináveis vais-me contando os segredos que não revelaste a mais ninguém; vamos partilhando os sonhos de uma vida que se deseja imprevisivelmente doce e recheada de surpresas maravilhosas como esta.
A chuva foi cedendo aos primeiros raios da manha de um dia que nasceu lindo, “só para mim”, como me fizeste crer! Não tive o poder de fazer parar o relógio, mas tornei todos estes segundos eternos… inesquecíveis…

ss

15 de outubro de 2005

LX

O que seria de mim sem vocês?!?

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8 de setembro de 2005

Fogo, Sonho & Morte à 3 Milhões anos

Por estes dias tenho andado a estudar uma disciplina cujo nome é Evolução Humana. Desde os mais pequenos primatas às tão famosas formas de Australopithecus e Neandertais, houve uma imensidão de novos comportamentos que surgiu. Aos reles alunos, como eu, pede-se que estudem as várias teorias que os grandes paleontólogos construíram. A título de exemplo, tenho de saber quais os primeiros hominíneos a efectuar enterramentos, ou quais aqueles que pela primeira vez conseguiram o domínio do fogo. É engraçado quando vemos que o fogo está relacionado com uma maior segurança, o que permitiu aos nossos antepassados começar a sonhar durante o seu sono, que se tornou mais sereno… Depois do sonho veio a arte, mais tarde a religião, a linguagem… a ciência.
Os cérebros começaram a desenvolver-se… Cada indivíduo tinha agora uma consciência de si próprio, regendo-se por regras ditadas por alguém da mesma espécie. Esse alguém começou por ser o “macho dominante", escolhido por ser o mais forte, depois por ser o mais sábio, e mais recentemente por ser o mais “esperto”. Criaram-se divindades que só alguns (talvez os mais espertos…) podiam representar. Veio a linguagem, e as primeiras mentiras. A selecção natural tratou de eliminar aqueles que mais facilmente se deixavam enganar, e aqueles que não tinham grande vocação para essa arte que é a sobrevivência. Enfim… como alguns dos nossos antepassados não tiveram grande tempo para conhecer este planeta tão simpático, surgiu, num qualquer elemento do género Homo, a ideia de uma outra vida… (Como eu gostaria de conhecer esse cérebro iluminado!!). A partir daí iniciaram-se os primeiros enterramentos (há que conservar o corpinho!). Juntamente com o corpo também eram enterradas ferramentas do seu trabalho, comida e em alguns casos as suas companheiras. Por esta altura da História ainda não se conhecia a monogamia! Há também indícios de que já se sofria pelos mortos, as lágrimas já corriam pela face (um pouco mais peluda e prognata é claro) daqueles que se tinham ficado, ainda, pela primeira vida. Ora se os nossos antepassados acreditavam na existência de outras vidas, porquê chorar por um nosso companheiro que já tinha avançado para a segunda? Um pouco incoerente, não? Pensando um pouco melhor vejo que, também nos dias de hoje, há quem acredite numa outra vida… Mas ainda assim toda a gente chora um pouquinho (ou muito!) quando morre alguém de quem se gosta.
De repente surge-me a palavra Saudade… Talvez há 2,5 M. anos já se soubesse o que era saudade, já se sentia essa dor aguda de perder aqueles com quem mais gostávamos de partilhar os dias.
E agora sim, ao fim de muitas linhas chegamos onde eu queria:

É que estes anos todos de Evolução permitiram coisas tão incríveis como chorar a morte de alguém que nunca existiu, e ter saudades de um sonho que morreu.

Maldito fogo… que nos ensinou a sonhar!!

ss

28 de agosto de 2005

Sonho de Uma Noite de Verão II

Azul, muito azul que se foi fundindo em tons mais quentes, de um sol que se despedia. Não corria nem uma leve brisa, estava tudo calmo, parado! O negro cresceu e conquistou a totalidade do céu. Nunca tinha observado com tanta atenção o nascer da noite… As estrelas foram surgindo, primeiro as mais brilhantes, seguindo-se as mais distantes. A cada minuto pareciam mais… incontáveis pontos cintilantes que decoravam, ordenadamente, aquele manto de escuridão. O mar reflectia a lua, enorme, sedutora, mais bonita que nunca!! Olhei-te pelo canto do olho… Adormeceste!
Fico longos minutos a rever todas aquelas marcas que faziam de ti a minha estrela… Decido acordar-te, noutros tempos não o faria…
- “Estas a perder a melhor parte!!”
- “O quê? O banho?!”
No meio de gritos e insultos, já estamos os dois enfiados na água.

Foi enrolados na toalha, salgados e em risco de hipotermia que tivemos a melhor conversa de sempre. Não falamos de “nós”, porque o “nós” é que estragou tudo...Cada um falou de si e ouviu a opinião do outro. (Sim… irrita-me profundamente que conheças, melhor que ninguém, a minha pior parte. Sabes que a minha determinação é totalmente falível… Conheces o meu gigantesco medo de fracassar… ) Criticaste a minha falta de coragem para lutar pelo que mais quero, só pelo terror que tenho de falhar: “Oh Sílvia, algum dia tens de decidir se queres ser uma sonhadora conformada ou uma pessoa feliz. (…) Se ao menos ouvisses alguns dos bons conselhos que me dás... (…) Sabes qual é o teu problema? Exiges demasiado… queres tudo perfeito, mas na verdade consegues viver de pequeninas migalhas. Um sorriso basta para te encher o coração e te lançar numa espera angustiante pelo próximo sinal de que o teu sonho é possível… E o que eu realmente não compreendo é como é que tu vais sobrevivendo assim… como é que, “sem nada”, acordas de manhã cheia de força para um novo dia, para uma nova espera… sempre com todo esse amor para dar!”

Inevitavelmente acabo a noite a chorar, porque no fundo sei que sou tudo aquilo que dizes e não encontro em mim força suficiente para o mudar. Enfim, agora haverá mais pessoas a conhecer a minha parte “má” o que me pode ajudar a encontrar a coragem necessária para me mudar… ou não.

Nunca tínhamos conversado sobre mim, era sempre eu a apontar-te os erros, os defeitos… Esta noite pude ver e sentir, claramente, que talvez tenhas sido o fruto do meu único momento de coragem… E que, o que eu vi como fracasso é, na verdade, um grande tesouro, que por pouco não soubemos preservar. Orgulho-me muito de ter gostado tanto de ti… Porque afinal, as estrelas, mesmo depois de mortas, continuam a brilhar… e tu hoje brilhaste mais que qualquer outra...


SS

24 de agosto de 2005

Sonho de Uma Noite de Verão I



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10 de agosto de 2005

2005

Hoje li uma notícia onde o ano de 2005 era “acusado” de ser um dos piores dos últimos tempos para Portugal. Ora, a mim pareceu-me uma acusação bastante injusta e dou aqui a minha contribuição para a defesa de 2005…

“Dia 1 de Janeiro! São 8 horas em ponto. A manhã está a acabar de nascer, a luz é ainda muito leve... O silêncio é quebrado pelas ondas que ameaçam chegar a alguns dos que se ficaram pela areia da praia. O meu expresso ainda demora 30 minutos, por isso decido sentar-me um pouco. O cenário, quase bélico, é de corpos espalhados por entre destroços de garrafas e latas vazias semi-enterradas na areia. É a primeira manhã do ano. Estou sozinha, a mais de duzentos quilómetros de casa... Mentira, tenho por companhia um pequeno batalhão de gaivotas que decidiu pousar mesmo ao pé de mim... O silêncio da rebentação das ondas é agora ocupado por uma série de intercomunicações que sou incapaz de decifrar, mas que vou ouvindo deliciada... O sono invade-me e lentamente a minha imaginação voa como aquelas gaivotas. Sinto-me a flutuar, de braços abertos com a brisa gelada de Janeiro a bater-me na cara... Como se pudesse mesmo ser uma gaivota vou-me sentindo a planar em direcção àquela linha ténue que une o azul mais claro da aurora ao azul agitado do oceano... Quem dera que fosse atingível! Apercebo-me do frio da manha e ao meter as mãos no bolso do meu casaco encontro uma uva... Acho que me esqueci de pedir um desejo!! Ou alguém me concedeu um 13 desejo... Ou talvez isto seja só uma uva e qualquer outro sentido que eu lhe esteja a dar é pura falta de sono! Ainda assim, sinto-me no direito de mais um pedido. Vasculho afincadamente os meus mais recônditos desejos e a única "coisa" que me ocorre é tão ridícula e repetitiva que me revolto contra a minha própria falta de imaginação... É triste ver-me aqui a censurar os meus próprios sonhos... a acha-los demasiado surreais, demasiado bons (mas são sonhos!!!!! Não era suposto os sonhos serem assim?) Decido levantar-me, porque já me vejo de lápis azul na mão a decidir o que devo ou não sonhar... Tento recordar-me se teria bebido muito, mas não! Não posso culpar o álcool por este meu devaneio mental.
Olho de novo para a uva e decido comê-la... sem pensar em nenhum desejo, nenhum sonho. Mas a frescura doce do sumo daquela uva esquecida devolve-me a coragem de sonhar… de te sonhar! E de repente, sem que eu te pudesse censurar, já estas no seu sonho… És o meu 13º desejo!

São 8h30… O meu expresso chegou e eu já tenho um sonho para 2005!”

E sim… esta é uma das páginas daquele meu cadernito!!

SS

8 de julho de 2005

Fala-me de ti...

E tal como da primeira vez, estou à espera que me convides para um "café"! Não precisa ser à luz vermelha de um barzinho manhoso escondido naquela rua que eu "nunca tinha visto"... não precisamos partilhar o mesmo chá "de pétalas de rosa"... que tu detestaste. Não precisas ficar a ouvir-me... Não precisas correr meia cidade para me levares a casa... Não precisas ouvir-me dizer-te que não...
... Não vamos chorar...

Hoje só queria que estivesses à minha porta para me raptar (de pijama!!) para ir ver as estrelas...

ss

19 de junho de 2005

Para ti... sem ti

Devagarinho foste voltando à minha vida. Nunca estiveste fora, mas já não te esperava. Não te senti entrar. Silencioso, envolvente, foste invadindo o meu sonho… Quiseste chama-lo de nosso e tornaste-o quase realidade. Fizeste-me sentir, quase, a melhor pessoa do mundo.
Não te consegui demonstrar toda a felicidade que me deste, porque ela não cabia dentro de mim…. Queria ter-te dito tantas coisas… Escrevi tantas linhas por ti, para ti. Palavras tão felizes que não as queria partilhar com ninguém com medo que se perdesse algum pedacinho do sentimento.
Mas as palavras foram-se dissolvendo nas lágrimas do que já não me davas, e eu não te podia pedir. O coração foi-se encolhendo para não se sentir vazio. Os dois planetas voltaram às orbitas distantes, frias.
As memórias encheram-se de solidão.

…O meu sonho já não serve! Ensinaste-me a partilha-lo… e agora já não o sei sonhar sozinha…

ss

16 de junho de 2005

Bad day...


ss Posted by Hello

10 de junho de 2005

Serendipity!

A própria palavra é agradável de se pronunciar, mas melhor ainda é a ideia de que a vida é um conjunto de pequenos e felizes acasos que, se os soubermos interpretar, nos indicam o tal de “final feliz”. Mas então existirá um irremediável destino? O destino de todos nós será a felicidade? Mas a felicidade não se devia construir? Talvez a construção da felicidade não seja uma engenharia de argamassa e tijolos… talvez passe apenas por interpretar esses tais sinais…

E eu já tive tantos… tantos sinais que me levam para onde eu não quero… É triste… mas a minha vida não é um filme… eu não vou encontrar o teu número de telefone numa nota de 1 dollar e tu não vais guardar o par da minha luva.
Os nossos elevadores não levam ao mesmo piso!

… Mas temos o “nosso” banco…

ss

26 de maio de 2005

Ultimo dia de queima...

Normalmente não gosto de me deitar quanto já é dia… mas hoje vi o dia nascer, devagarinho… Vi cada uma das cores da aurora a surgir e a iluminar esta cidade que já sinto como minha. Enrolada na capa, preparei-me para a longa caminhada até casa. Senti na cara o friozinho da manha...Parei, sentei-me nas monumentais! Estava a sentir-me incrivelmente triste… aparentemente sem razão… (nada de anormal para mim) ou por uma razão que eu não queria admitir (o que também não é uma novidade).
Já pisei tantas vezes estes degraus… já tive de os subir com a pressa de quem está imensamente atrasada para um exame, já os desci com o cansaço de um dia cheio de aulas… Subi-os com os melhores amigos que alguma vez tive. Fiquei muitas vezes sentada, como hoje, a ouvir confissões, a preparar festas, a combinar encontros… Já subi estas escadas com a cara encharcada em lágrimas… Já as desci com gargalhadas felizes, enquanto lutava com o meu guarda-chuva que não resistia às chuvadas de Dezembro.

Nessa manha fiz a maior, talvez a melhor, retrospectiva pela minha vida… Recordei, ponderei, questionei, decidi…

ss

16 de abril de 2005

Tu aqui?

"Que aventura, que intensidade…por vezes próximas duma loucura sentimental que nunca (te) soube explicar. Será que alguma vez a chegaste a sentir? Na verdade nem eu me percebia muito bem e talvez por isso nunca quis que o soubesses. Mas era quase um vício, uma necessidade para a qual eu não encontrava uma explicação lógica. Precisava de saber de ti, ter notícias tuas, perceber-te, voltar a conhecer-te…Sentia que era a única maneira de entrar nesse teu mundo que insistia em seguir uma órbita radicalmente diferente da do meu, que sempre me pareceu demasiado longínquo para que o pudesse sequer ambicionar alcançar!(...)"

Que força é esta que permitiu eclipsar toda a distância entre dois mundos... que engoliu tanto passado, que galgou tantos anos luz para chegar aqui? Onde estamos?

Adoro ver-te no meu blog!

SS

28 de março de 2005

O que se aprende numa semana de neve...


ss Posted by Hello

22 de fevereiro de 2005

Indecisões...



Porque é que nada na minha vida é linear... tenho sempre de desistir de alguma coisa para fazer outra que não sei se gosto mais... ou se gosto menos?? Posted by Hello

ss

19 de fevereiro de 2005

Coordenação

Acto ou efeito de coordenar; disposição metódica que estabelece relação recíproca entre as coisas em que ela se exerce. (na química: tipo de ligação quimíca entre átomos)


Se alguém souber outra forma de ME explicar esta palavra... por favor contacte!

ss

7 de fevereiro de 2005

Carnaval!!

Eh Eh, tal como no ano passado vou dedicar-me ás palhaçadas... Bem pertinho daqueles com quem me sinto melhor!!
Cinco miúdas ao assalto da Sunset! Não percam a sequela...

SS

5 de fevereiro de 2005

Memória

Há dias em que uma tristeza enorme nos invade... Não há motivo... não há explicação. "É so mais um dia mau"... É na tentativa de procurar algum ânimo para me levantar deste sofá que vou lendo as "páginas" felizes do meu cadernito...
Curiosamente... é nas páginas tristes que me detenho mais tempo! Reparo num papel azul, algo amarrotado, colado com um pedaço de fita-cola à margem de uma folha deixada em branco:

"Andorra, dia 18 de Março de 2003:

Escapei-me do resto do grupo. Estou na janela do meu quarto a fumar um "camel" que veio esquecido na minha carteira, dentro do maço que tinha comprado, a meias, no Verão. Os flocos de neve vão caindo muito lentamente, marcando para sempre a minha primeira noite "branca". Não sei explicar a angústia que me invade... É uma vontade de gritar, de chorar... de me explodir! Algo está mal no meu coração... O **** é uma memoria constante que não consigo tirar um minuto da mente... Fecho os olhos e relembro o sorriso que esboçavas sempre que te dizia "não te curto" e como sentias tão bem que o meu corpo só esperava que me agarrasses e me prendesses para a eternidade. Patetices de criança... acreditar na eternidade!!
A neve que caí lá fora é, sem duvida, o completar de um sonho que no entanto me parece incompleto porque não te tenho, nem te sinto perto de mim. Não tenho ideia do que estás a fazer, do estás sentir, do que são os teus projectos, as tuas duvidas, angústias... alegrias. És um profundo vazio que não me sinto capaz de preencher...
O cigarro acabou. Encho os pulmões com ar gélido que vem da montanha agora totalmente coberta de neve. A música que vai entrando, baixinho, na minha cabeça diz que "Não vai haver um novo amor, tão capaz e tão maior, PARA MIM SERÁ MELHOR ASSIM!!!" Será?? Espero que algo... alguém me possa ajudar a tirar estas lágrimas dos meus olhos. Quero ter esperança de que um dia esta ferida, aberta pelo abandonar de um sonho, vai fechar. Quero ter esperança de que o medo de ser feliz não voltará a deixar-me tomar pela cobardia... Porque afinal, se não houver medo, não é coragem!"

Quase dois anos depois, sinto que podia ter escrito a folheca hoje... porque o caminho que trilhei não foi suficiente para apagar esses "riscos errados e grosseiros do passado que notar-se-ão para sempre"

ss

29 de janeiro de 2005

YOU...

You twist to fit the world that I am in...

ss

26 de janeiro de 2005

Hoje Sonhei...

... Entrávamos os dois juntos no MoMA!! Eu tinha os dois bilhetes cor-de-rosa na mão...que tremia demasiado. Parecia que guardava ali o maior tesouro que já tinha sido meu. Quando os entreguei ao segurança o coração disparou! Não segurei a emoção e deixei escapar uma lágrima que tu afastaste com carinho. Deste-me a tua mão e perguntavas-me se estava preparada:
- Olha que com esses olhos assim não vais ver nada!
Recompus-me e avançámos, muito lentamente, absorvendo cada milímetro de cor, de luz... de arte!!

(...)

E foi o primeiro dia do resto das nossas vidas... passado num ziguezaguear através das épocas... Na cidade que escolhemos para nós.

SS

24 de janeiro de 2005

Look for the Girl With the Broken Smile

Beauty queen of only eighteen
She had some trouble with herself
He was always there to help her
She always belonged to someone else

I drove for miles and miles
And wound up at your door
I've had you so many times but somehow
I want more

I don't mind spending everyday
Out on your corner in the pouring rain
Look for the girl with the broken smile

Ask her if she wants to stay awhile
And she will be loved
She will be loved

Tap on my window knock on my door
I want to make you feel beautiful
I know I tend to get insecure
It doesn't matter anymore

It's not always rainbows and butterflies
It's compromise that moves us along
My heart is full and my door's always open
You can come anytime you want

I don't mind spending everyday
Out on your corner in the pouring rain
Look for the girl with the broken smile
Ask her if she wants to stay awhile
And she will be loved
She will be loved

I know where you hide
Alone in your car
Know all of the things that make you who you are
I know that goodbye means nothing at all
Comes back and begs me to catch her every time she falls

ss

Sunday Morning Rain is Falling and I'm Calling Out to You

Sunday morning rain is falling
Steal some covers share some skin
Clouds are shrouding us in moments unforgettable
You twist to fit the world that I am in
But things just get so crazy living life gets hard to do
And I would gladly hit the road get up and go if I knew
That someday it would lead me back to you
That someday it would lead me back to you

That maybe all I need
In darkness she is all I see
Come and rest your bones with me
Driving slow on Sunday morning
And I never want to leave

Fingers trace your every outline
Paint a picture with my hands
Back and forth we sway like branches in a storm
Change the weather still together when it ends

That maybe all I need
In darkness she is all I see
Come and rest your bones with me
Driving slow on Sunday morning
And I never want to leave

But things just get so crazy living life gets hard to do
Sunday morning rain is falling and I'm calling out to you
Singing someday it'll bring me back to you
Find a way to bring myself back home to you

And you may not know
That maybe all I need
In darkness she is all I see
Come and rest your bones with me
Driving slow....

ss

20 de janeiro de 2005

É só mais um começo!!

Prevêem-se grandes novidades já para amanhã...
Chegou ao fim a era das gatafunhadas!!

Durante mais de um mês, andámos por aí a flutuar... Amanha ficaremos a conhecer algumas das incoerências gravíticas que encontramos por esses comboios e expressos de Portugal...

SS

 
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