27 de abril de 2009

Sons ao entardecer


Like moses has power over sea, s
o you've got power over me!
coldplay


E isso não é necessáriamente mau!


ss

25 de abril de 2009

#1 Lisboa

Este ano eu queria Lisboa!! Queria o largo do Carmo, queria aquelas ruas e aquelas árvores com história. E Lisboa recebeu-me, com abraços apertados e sorrisos tão familiares.
Este dia é, sem margem para dúvida, o dia mais importante do ano para mim. É-o de uma forma tão inexplicável que já não me canso a dissecar as possíveis razões.
25 de Abril é o telefonema para os avós, é o cravo na lapela do avô… são os cravos por toda a casa... Mas é ainda tanto mais: é um sorriso com mais vontade, é um suspiro mais fundo.

Mais uma vez a vida me sorri e, como eu queria, ouvi e cantei a Grândola Vila Morena em plenos pulmões. E cantei o Depois do Adeus, com as lágrimas sufocadas nos olhos vermelhos. Depois veio a Tourada, do Ary dos Santos, que para sempre será o meu poeta (ou não tivesse morrido no mesmo dia em eu nasci).
Quando o cansaço venceu, caminhamos até ao terreiro do paço, e naquelas velhas arcadas apanhei o último táxi em Lisboa.

Já fiz mais um check na minha lista de despedidas. E esta foi deliciosa! Sem a angústia de quando voltar... Despedi-me dos Jerónimos e dos meus tão amados Pasteis de Belém. E fi-lo com quem mais queria fazer. Com quem tinha mesmo que fazer. Houve ainda tempo para um momento fotográfico “Starbucks!!”. Deitei-me mais uma vez na relva do CCB, onde tantas vezes sonhei viver em Lisboa, com vista para o Tejo. Despedi-me da Festa da Música onde tantas vezes adormeci e sonhei como ia ser quando fosse crescida. Tantas amizades aqui cimentei...

Levo ainda comigo a mais bela vista sobre a noite em Lisboa: o Castelo, a Sé, a Ponte 25 de Abril, o Cristo, o Tejo. E o Bairro… as ruas cheias de gente. Os cravos nas mãos.

Com o cerrar das pálpebras, o Rossio, o bolo de cenoura e chocolate no Chiado, a tosta carérrima na Brasileira, o abraço a Pessoa, os passeios pela Avenida da Liberdade, o MP3 gritado cá do fundo, a Assembleia da República, as corridas de bicicleta no parque das nações, os finos no Clube dos Loucos e Sonhadores, a vista arrebatadora do Adamastor, Alvalade e as correrias, o meus tantos e tão bons concertos, o risoto de camarão (com açafrão!)… estão todos cá! E a despedida fica completa com o acenar de mão. O até sempre.

São 7h30 na madrugada de mais um 25 de Abril.

Não sei quando me voltarei a despedir de alguém nesta cidade. Não sei quando volto a esta Gar do Oriente.
Fica a vontade do reencontro.
Levo comigo a Saudade.

SS

18 de abril de 2009

Maria

A noite tinha sido curta.
Eram 8h30 e já estava à porta de casa embrenhada num nevoeiro gélido de Abril. Levava um sumo no bolso e duas bolachas enfiadas na boca.
Vila Real agora é tão perto!
As maias e ­­­­­tojo vão pintando todo o caminho de amarelo. É Primavera e os montes estão coloridos de flores. Vêm-me à memória aquelas viagens ao Alentejo nas férias da Páscoa, onde o verde dos montados era interrompido pelo vermelho das papoilas, pelo amarelo dos malmequeres, e o rosa arroxeado dos cardos. Mas isto não é Alentejo: é Trás-os-Montes. É Douro (o meu Douro).
Depois de atravessar um pouco de chuva no Marão, Vila Real aparece iluminada por entre as nuvens cinzentas e farrapinhos de azul. Com o serpentear da estrada ia crescendo a angústia. Sabia porque ia; porque tinha dormido tão pouco. E ao pensar no que ia encontrar as lágrimas queriam escorrer-me pela cara. Mordia os lábios. Cerrava os dentes…
Fazemos um reforço de pequeno-almoço. Respiro fundo o ar gelado da serra e sinto-o a queimar na cara. Há mais caminho para percorrer. Precisamos chegar ao rio: o destino é a Régua.
Tenho uma tia. É uma tia-avó, irmã de uma avó que já não tenho. É uma tia linda que vive em Travassinhos, Santa Marta de Penaguião, bem na fronteira com a Régua. É dona de todo um vale, que se lhe entra pela janela. Leiras e leiras de vinha que mudam de cor a cada estação do ano. E uma cerejeira velha, quase tão velha como a minha tia. A Tia Maria. A minha Tia Maria.
Esta nova auto-estrada é a mais bonita de Portugal.
A vista para o Douro vinhateiro é magnífica e mais do que vê-la, adoro ver o entusiasmo do meu pai a chegar à terra.
Quando era mais pequena não gostava de ir a essa terra. Porque a casa de banho ficava na loja, porque não havia água quente, porque tudo tinha um aspecto menos limpo do que eu estava habituada, porque o cheiro a vinho, ou uvas, ou algo entre os dois pairava sempre no ar. Mas gostava da Tia Maria. Gostava da forma como ela me apertava, da maneira como me mimava. Gostava até do cheiro dela, a velha. E dos longos cabelos brancos que nunca vi senão devidamente apanhados. Gostava da mancha que ela tem na ponta do nariz.
Vim o caminho todo a fitar as giestas brancas na paisagem. Não há destas maias na Maia. É definitivo: gosto das giestas brancas. Gosto muito e nem sei porquê.
Continuava angustiada com a viagem e na minha cabeça começavam a crescer ventos como aqueles que vinham do Marão. Desde que me conheço tenho horror a escolhas difíceis. Nunca gostei de ter que optar por uma ou outra coisa que gosto. Se gosto das duas, então quero as duas! Há-de haver sempre uma forma de as conciliar. E muitas vezes estive em dois aniversários na mesma noite, muitas vezes estive em concertos consecutivos, em locais distantes. Muitas vezes conciliei pessoas inconciliáveis. Muitas vezes não dormi para ter bons momentos e boas notas. E a vida sempre me foi favorável. Até hoje poucas vezes tive de abdicar de algo que quisesse mesmo ter ou fazer, estar ou ser.
Mas a minha vida está numa nova fase, mais ingrata, mais adulta, mais crua. É chegada a altura em que não me vai ser possível tudo. Não há comboios tão rápidos, não há horas tão longas, nem dias só meus. A minha angústia é essa mesmo: é a conciliação de tudo que eu quero, de tudo que eu gosto, de tudo o que eu preciso, de tudo que eu tenho de fazer.

Já se viam as águas do Douro, mas Travassinhos é um pouco mais acima. Há que subir socalcos por ruelas apertadas e despovoadas.
Passam poucos minutos do meio-dia e a tia já espreita pela janela por onde lhe entra o mundo todos os dias.
A Tia Maria, a minha Tia Maria.
A minha Tia Maria que me aperta como ninguém e me olha como ninguém. Em mais nenhum olhar vejo o orgulho que vejo nela. Sei que me adora. Sinto que me adora. E por isso tinha de vir. Por isso queria tanto vir.
A Tia Maria nunca foi casada, não queria homem para mandar nela. Não sabe escrever mais do que o próprio nome, mas aprendeu a ler pelo livro da catequese… porque queria saber todas as orações do senhor. E porque queria ler os livros de que os irmãos falavam. E leu-os. Maria era a irmã mais velha e nunca foi à escola porque tinha de ajudar a mãe a cuidar dos mais novos. A Maria tratou do campo e da vinha toda a vida. Cuidou da mãe, e depois do pai. Cuidou da casa. A Maria, esta mesma que me agarra a mão com vontade, continua a comer o que planta e colhe, e cuida da sua vinha, qual tesouro precioso. Tem o rosto gasto pelo tempo e pela vida dura de quem carrega mais do que um homem valente devia carregar. Mas é doce e delicada: aprecia e cultiva flores de todas as espécies, feitios e cheiros. E conhece-as pelos nomes. Sabe como e quando regar; sabe a época do ano em que vão espevitar. Recolhe sementes e guarda-as para me dar...
A Tia Maria fez hoje 92 anos mas não se esqueceu de nada. Têm a cabeça mais fresca que a minha e sabe todas as datas que lhe são importantes de cor. A Tia Maria usa calças (porque são de mais aconchego para o vento Sudão) e não acha mal que haja divórcio. A Tia Maria faz-me chorar, só de a ouvir contar as histórias de quando o meu pai era pequenino e lhe roubava o mel das colmeias. A Tia Maria enche-me de orgulho e de emoção quando me fala do meu rio: o Douro, o meu Douro. Aquele que me sabe a casa a cada sexta-feira.

Hoje cantei os parabéns à Tia Maria. Tinhamos um bolo e duas grandes velas vermelhas. A velha Maria bufou as velas pela primeira vez na vida e chorou, comovida, abraçada a nós. Os quatro brindamos com vinho generoso da terra.

A minha Tia Maria encheu-me o coração. E mesmo que a angústia de não a ver mais me faça chorar todo o caminho de volta, ficam os planos para Junho! E eu cresço mais um bocadinho, e aprendo mais um bocadinho do que é a vida, a família, e o ter uma profissão.
ss

10 de abril de 2009

Tenho sempre o Jamie para ouvir...

(...)
So tenderly
Your story is
Nothing more
Than what you see
Or
What you've done
Or will become...
Standing strong
Do you belong
In your skin...
Just wondering

Gentle now
A tender breeze
Blows
Whispers through
The Gran Torino
Whistling another
Tired song

Engines humm
And bitter dreams
Grow
A heart locked
In a Gran Torino
It beats
A lonely rhythm
All night long
(...)
(Gran Torino; Jamie Cullum, Clint Eastwood)

8 de abril de 2009

"Catch the sun,before it's gone"

Gosto mesmo destas tardes ensolaradas em que me sento à varanda e a música se mistura com os pássaros até à hora do jantar.
Gosto de estudar sentada no chão, com as pernas apoiadas na floreira (da qual é minha função cuidar)!
Gosto da pele quente e das rugas que ganho a ler com tanta luz.
Gosto da nortada a enviar-me folhas para locais estranhos (que incluem o jardim do vizinho).
Gosto de verdinho fresco das árvores a despontar para um novo ciclo.
Gosto da minha laranjeira carregadinha de flores que cheiram maravilhosamente e que, um dia, vão dar laranjas (que vão ter gominhos!).
Gosto do cheiro a terra ainda molhada.
Gosto do Sol e gosto do Jamie!

Every day it comes to this
Catch the things you might have missed
You say, get back to yesterday
I ain't ever going back
Back to the place that I can't stand
But I miss the way you lie
I'm always misunderstood
Pulled apart and ripped in two
But I miss the way you lie

Catch the sun, before it's gone
Here it comes, up in smoke and gone
Catch the sun, it never comes
Cry in the sand, lost in the fire

I never really understood
Why I didn't feel so good
But I miss the way you lie
I've always been up and down
Never wanted to hit the ground
But I miss the way you lie

Catch the sun, before it's gone
Here it comes, up in smoke and gone
Catch the sun, it never
Cry in the sand, lost in the fire
(Jamie Cullum, Cathing Tales)


SS

 
Site Meter