20 de dezembro de 2009

Cheguei...

... e já cheira a Natal!!

23 de outubro de 2009

Dois

Dois passos e um banco de jardim. Uma flor fora de tempo perdida no meio de folhas avulsas que o Outono começou a pintar. Um toque de azul que faz inveja ao céu do dia mais bonito. Um azul tão profundo que se deixa ver por dentro. Belíssimo. Três passos e o correr de um rio violento. O vento quente sopra os tecidos contra o corpo. É um vento que nos faz sentir. Sentir-nos. Vivos e latejantes. Azul. É sempre azul. E quente. E cheio.
Dois passos, os mesmo dois passos e os lábios que me recebem são tão vermelhos que parecem de sangue. Aquele que lhe corre mais depressa agora. Dois passos, mais dois passos e uma mão aspera aperta-se em mim. Dois passos, só dois passos, e dir-se-ia que já não há cores. Que fica, que é daqui. Que pertence.
Azul, tão azul que não me canço de o olhar. Que não se cança de me olhar. Doce. Adoravelmente doce. E terno.
Dois passos. Um pedaço quadrado de chocolate partilhado. Duas partes de uma textura indefenida. Acetinada. Uma lua enorme fá-lo brilhar ainda mais... de azul. Naquele azul que cintila mais que o mar do meu país.
Deifro-lhe todos os tons e apaixono-me por cada um deles.
Dois passos, dois olhos, duas mãos. Dadas. Juntas.
Minhas

ss

11 de outubro de 2009

Let's go to the park...

[estou viciada em em John Legend]

ss

18 de setembro de 2009

Here it comes the sun...

... and I say it's all right

Little darling, it's been a long cold lonely winter
Little darling, it feels like years since it's been here
Here comes the sun, here comes the sun
and I say it's all right

E o resto cantou e dedilhou só para mim...

ss

10 de setembro de 2009

Let it be!

Quando somos pequenos bebemos invariavelmente muito daquilo que os nossos pais são. O meu pai era um grande fã dos Beatles. Lá em casa há discos de vinil: álbuns e singles. Há várias colectâneas e todos os álbuns originais em CD. Muitos comprados pelo próprio pai, outros já adquiridos por mim, que lhe tomei o gosto pela colecção e pela música.
Quando as minhas amigas ouviam Ministars e Ondachoque eu ouvia Beatles e The Doors, porque se havia coisa que eu não queria ser era criança. Ora essa! Já era crescida. Lembro-me de estar na quarta classe e ter iniciado a minha formação em inglês. A cada lição vinha para casa tentar ler as letras das músicas dos Beatles e compreender o que até aí gostava sem perceber porquê? Gostava da música e cantava-a à minha maneira. Sabia dizer yellow submarine ou when I’m sixty four, já era qualquer coisa.
Costumava dizer que aprendi a falar inglês com as músicas dos Beatles. Pelo menos a vontade de aprender a língua deveu-se a essa curiosidade pelo conteúdo das músicas que tanto gostava. Os Beatles!! Não há música que tenha seguido comigo tanto tempo como a que estes quatro rapazes fizeram
Na última noite que passei em Portugal antes de me mudar definitivamente para França, depois de arrumar tudo o consegui empacotar, lembro-me de me sentar na cama, desolada, de cara repuxada de tanto sal, de tantas lágrimas, de tanta vontade de não ir. E esse não ir esteve muito perto… Uma tristeza dolorosa tolhia-me os movimentos. Sentia-me a ser expatriada de mim própria. Olhava a cama e pensava que não queria dormir essa que estava designada a ser a última noite. Estava nesse impasse, com mais lágrimas a escorrerem pela cara vindas nem sei de que forças, quando no rádio passou a The Long and Winding Road.
Estava feito! Era essa mesma estrada que eu estava prestes a percorrer e ia ser capaz de o fazer! Senti-o. Soube-o nesse instante. Chorei ainda mais emocionada pelo som das cordas mas enchi-me de vontade. Dormi transbordada de esperança.
Os Beatles e as suas músicas... Oh meu Hey Jude, o tão meu take a sad song and make it better

E agora eu pergunto. Como resistir? Como?
Se ao menos eu não tivesse visto tantas vezes aquele filme. Mas vi! E continuo a achar que a minha vida pode ser como o Serenditipy… Como não acreditar que é? Com tudo o que esta semana me foi… Como resistir, volto a questionar-me?
Porquê resistir?
Pedalo para casa. Ainda se sente o calor do que vem do solo. Queima-me a face. De alegria. Sorrio para o vazio de pessoas que há na rua. O vento bate-me no corpo e sinto-me a viver, por inteiro.
Como eles dizem:
Let it be!!
(dito com euforia)
SS

2 de setembro de 2009

Na tua sombra

está-se bem melhor.

Fica e conta-me a tua vida. Olha-me com esses olhos de velho e dá-me a alegria de ter, ainda, toda uma vida.
Fica. Deixa-me fotografá-lo e ri-se dos meus óculos redondinhos. Tem mãos cheias de rugas, ásperas e quentes. Inesquecíveis ao toque. Ensinou-me tanto e não o verei novamente para lhe agradecer.
Agradeço à vida por todos os ensinamentos, mesmo que rebuscados, de felicidade! E vou dormir. Que é tarde e a Nina Simone está a chamar-me para o son(h)o (nunca é tarde!). Deixo a janela aberta para me deixar embalar pela lua tão brilhante desta noite.
Vens?

ss

24 de agosto de 2009

Fotografia de Família

Lembro-me de ser pequena, e por pequena entenda-se de pouca idade, além da pouca altura, e andar pelas ruas com a máquina do pai. A Pentax era dotada de um certo tamanho e de um peso que não era propriamente negligenciável quando comparado com o meu. Mas eu adorava aquele instrumento, achava-o fascinante. O meu pai, com a paciência pedagógica que sempre o caracterizou, passava longas horas a explicar-me como funcionava. Quando tirávamos o rolo, que era necessário re-enrolar com uma manivela, abríamos a aparelho e era como um novo mundo a revelar-se. Ali estavam as entranhas daquele instrumento mágico capaz de reter a realidade. Eu ficava como que enfeitiçada a ver o diafragma abrir-se. Mais ou menos, de acordo com o que eu mandava. Mudava a velocidade de disparo e ficava excitada com a obediência sábia daquelas lâminas que podiam ser rápidas ou demorar-se. E o som da Pentax do Pai: é inesquecível o clap daquele diafragma que me hipnotizava.
Já me vejo, pequena, de duas mãos a abraçar o tesouro que o pai me depositava confiante. Uma mão controlava a objectiva a outra controlava o disparador. Todas as funções da máquina eram de controlo manual por isso o meu pai gastou longas horas explicando-me cada uma delas. Deu-me noções de física quando eu nem sabia fazer as contas de dividir com números decimais (bem... nem sei se alguma vez o aprendi!). Eu bebia, orgulhosa da sabedoria do pai, toda aquela informação que me tornaria possuidora da capacidade de captar imagens para sempre. Eu ia ser capaz de as tornar eternas dentro da minha eternidade. Era feliz.
Quando fui para o quinto ano tive como presente uma Olympus “série miu”. Acabei por não tirar tantas fotografias quanto queria porque a mesada não dava para comprar os rolos. E eu fazia-me de esquisita e só queria rolos 400ASA, “porque eram os melhores para fotografias com a pouca luz” ideais para os dias de nevoeiro que fustigavam esta minha cidade. A revelação também era cara, mas essa dava para adiar, até o pai se compadecer da minha caixinha dos rolos usados e os levar ao senhor Cândido para revelar em conjunto com os dele. O senhor Cândido conhece-me desde que era mais baixa que o balcão onde hoje pouso a pen-disk e lhe peço as fotografias para ontem. O senhor Cândido dizia-me sempre que eu tirava boas fotografias, elogiava as perspectivas e prometia caprichar nas cores.
- Assim dá gosto revelar fotografias!
Eu, de brilho nos olhos, caminhava de volta a casa num flutuar. Inchada de orgulho a achar-me a melhor da minha rua. Ainda hoje o senhor Cândido gosta de encher de piropos as minhas fotografias. Bem sei, agora, que é lábia de quem gosta muito do dinheiro que lá deixo cada vez que mando revelar uma catrefada de fotografias… Talvez não! Um dia o senhor Cândido levou-me ao laboratório e eu logo quis fazer um igual na minha cave. E fiz! Improvisado. Obrigando a avó a costurar cortinas escuras e o pai a comprar uma lâmpada vermelha caríssima. Foi bonita a aprendizagem, deu-me gozo, mas não mantive a paciência e nem me dei mais ao trabalho de preparar todas as soluções. Ao final de contas eu até gostava daquelas visitas ao senhor Cândido.
Contudo, não é apenas ao meu pai e ao senhor Cândido que devo este interesse…
Hoje, sentada no sofá da minha avó com um álbum ao colo apercebi-me, mais do que nunca, porque gosto de fotografia. A minha avó é uma mulher moderna, como eu gosto de dizer. É mais moderna do que muitas mulheres da minha idade. E enche-me de orgulho. Quando a tradição da família era trabalhar com as linhas, ser modista, fazer malhas, ela foi trabalhar para a FOCAR. A minha avó foi toda a vida empregada de uma loja de fotografia. Revelava, retocava, coloria, vincava, recortava…
Hoje, naquele sofá a avó mostrou-me fotografias: muitas, muitas!! Fotografias de quando era nova. Tem centenas delas. Fotografias do pôr-do-sol da nossa praia Atlântica, fotografias de eventos importantes passados na sua invicta cidade. Há na casa dos meus avós uma reportagem precisa e bem focada de todo um século de fotografia. Vejo-a entusiasmada com a reportagem da vinda do Humberto Delgado ao Porto: mantas nas janelas, gente de sorrisos esperançados, braços no ar. A inauguração do Estádio do seu Futebol Clube do Porto: bandeiras ululantes numa cidade extasiada. São álbuns de cartolina preta bem organizados no eixo do tempo.
Contava-me que as pessoas deixavam as máquinas com o rolo para que fosse retirado já no laboratório e que, na hora do almoço, ela e os colegas aproveitavam e gastavam os últimos centímetro de filme tirando fotografias nas traseiras da loja. A avó tem imensas fotografias com os colegas da loja e um registo do seu envelhecer digno de uma estrela de teatro. Aproveitando apenas os restinhos de película conseguiu uma reportagem fidedigna da mudança dos estilos dos cabelos, dos vestidos, dos acessórios. De lábios sempre pintados, como sempre, posava natural, sorridente para a objectiva. São fotografias de que qualquer neta se orgulharia!!
Hoje, na ternura dos avós conheci mais um pouco da minha família. Revi a minha (bis)avó Corina: o meu orgulho da infância, a matriarca inesquecível de uma família que me faz falta. Mas as fotografias daqueles álbuns começavam desde mais cedo. O padrinho do meu avô era aficionado da fotografia e em 1920 tinha já um aparelho capaz de captar fotografias bem nítidas. Tinha, além do engenho, muita arte. Há dezenas de fotografias do meu avô. Mas não daquelas fotografias preparadas, com vestidos imaculadamente engomados e cabelos meticulosamente penteados. Não! São instantâneos deliciosos da vida de uma criança numa quinta. Há retratos felizes do menino: retratos do afilhado e das criadas que sempre que podiam lá se punham ao alcance da objectiva. Há fotografias preenchidas de “parolos” lá da aldeia que vinham pedir que lhes tirassem uma fotografia. Mas a estrela do fotógrafo era o menino: lá está ele, brincando com uma vaca, um gato, uma galinha. Chafurdando no ribeiro, trepando a árvores, traquinando no meio da vinha.
Há um legado de inestimável valor naqueles álbuns.
Hoje, o meu avô prometeu-me a máquina fotográfica do seu padrinho. Ele deixou-lha, qual tesouro precioso e o meu avô quer dar-ma a mim. Mas só quando voltar, para garantir que eu volto, diz-me. Eu quero a máquina, sim, e quero as fotografias. Aquele tesouro a preto e branco. Aquela história do Porto e da minha família contada com pedacinhos de realidade com cheiro a livro velho. Eu volto, asseguro-lhe.
Hoje, voltando carregada com as framboesas que avós congelaram para mim, apercebi-me que nunca serei feliz num apartamento pequeno. Quero espaço para todas estas memórias físicas e quero terra para ter framboesas deliciosas como estas que venho a comer pelo caminho até casa.

ss

17 de agosto de 2009

A bola está do teu lado...

9 de agosto de 2009

"Façam o favor de ser felizes!"

Raul Solnado

7 de agosto de 2009

No meu deserto*

Todo o indivíduo devia experimentar o deserto pelo menos uma vez na vida. Não precisa ser muito tempo; bastam alguns minutos para ele nos esvaziar. O silêncio é tão límpido que chega a incomodar. Respiramos cada vez menos para não quebrarmos aquela magia. Mais baixo. Mais suave. Sem ruído. Não me oiço nem oiço aquelas quatro pessoas que vieram comigo. Ninguém se move. Ninguém respira. Os olhos parecem inertes, ninguém pestaneja. Dir-se-ia que ninguém existe. Só esta areia imensa, este amarelo torrado pelo Sol, este dia que foge. E, lá no fundo de lugar nenhum há uma bola de fogo que se deita. Desce visivelmente de encontro ao calor que vem da terra. Vai e vai e vai. Acaba-se. O amarelo fica mais azul e uma brisa suave e fresca nasce com as primeiras estrelas.
Adivinhava-se a noite mais estrelada do Verão. O silêncio quase podia ser interrompido pela batida seca dos corações extasiados. Oh o deserto. Mas o tempo chegava ao fim. O motor do jipe foi ligado. Quebrou-se o silêncio. A música árabe, maluca, tribal estala os ouvidos cheios de nada. Há tempo para um último encher de pulmões com este ar de terra inóspita agora povoada de lacraus emergindo da areia. Oh o deserto.
Dunas e dunas da mesma areia agora cor de cinza. O balanço violento do veículo embala as imagens que parecem estampadas no sorriso de cada um. Oh o deserto. O cheiro a seco, a tâmara, a sol enche-nos já de saudade daquele momento. O cheiro do entusiasmo, da realização. O cheiro da vida, doce, quando somos os quatro. ss

*isto sou eu a pedir um certo livro...

ss

5 de agosto de 2009

Coimbra

Tenho Nick Drake a encher-me a casa. Tenho San Pellegrini fresca com uma rodela de limão. Tenho um corpo cansado recostado no sofá que demorei quase uma hora a montar. Mas que montei. Consegui-o sozinha. É meu!
Tenho calor, calor que vêm do chão. Do alcatrão. E tenho saudades, muitas, da minha Coimbra.

ss

29 de julho de 2009

Magic Position

So let the people talk
It's Monday morning walk
Right past the fabulous mess we're in
It's gonna be a beautiful day
So do the bluebirds sing
As I take your hand
And you take my kiss
And I take the world
'Cause out of all the people I've known
The places I've been
The songs that I have sung
The wonders I've seen
Now that the dreams are all coming true
Who is the one that leads me on through

It's you
Who puts me in the magic position, darling now
You put me in the magic position
To live, to learn, to love in the major key

And I know how you've hurt
And been dragged through the dirt
But c'mon get back up
It's the time to live
So give your love to me
I'm gonna keep it carefully
Deep in the treasure chest below my breast
'Cause out of all the people I've known
The places I've been
The songs that I have sung
The wonders I've seen
Now that the dreams are all coming true
Who is the one that leads me on through

It's you
Who puts me in the magic position, darling now
You put me in the magic position, darling now
Let me put you in the magic position, darling
'Cause I'm singing in the, the major key

Let me put you in the major key
Patric Wolf

Foi tão bom... Posso repetir?
Não.

ss

20 de julho de 2009

Walking (On The Moon)

Caminhar para casa.
A minha casa onde, qual toureiro, enterrei a bandeira da primeira noite.
Caminhar para casa, agora sim, a minha casa.

Giant steps are what you take
Walking on the moon
I hope my legs don't break
Walking on the moon
We could walk forever
Walking on the moon
We could live together
Walking on, walking on the moon

Walking back from your house
Walking on the moon
Walking back from your house
Walking on the moon
Feet they hardly touch the ground
Walking on the moon
My feet don't hardly make no sound
Walking on, walking on the moon

Some may say
I'm wishing my days away
No way
And if it's the price I pay
Some say
Tomorrow's another day
You stay
I may as well play
The Police

18 de julho de 2009

Long Time Ahead Of Us

Bad luck
Bad luck you come for me
And the days are only getting shorter

When you come
Come along in the evening
And leave me in the middle of the night

Take me tonight as I am
Leave me the way I was found

Moonlight
Oh, moonlight help me sleep
There’s far too much weighing on my mind

The stars
In the night sky
Yell at me

Oh and shadows to my left
And to my right

Oh and tomorrow will rise
And the sky will be bright
Long time ahead of us
Goodnight
I’ll never change
Now that I got you
The Walkmen

Perguntas-me se penso em ti.
Penso e sinto-te a falta muitas vezes.

Como hoje, enquanto tomava banho com as colunas de som a encherem-me a manhã daquele sorriso embriagado que nem sei de que felicidade vem.

ss

13 de julho de 2009

Não mais.

Tal como naquela noite, as lágrimas escorriam-lhe como rios furiosos cara abaixo. Sabia exactamente onde lhe doía. E sabia que não estava ao seu alcance o alívio destes punhais que agora a penetravam impiedosamente. Não estava ao alcance da sua vontade, da sua súplica o fim do sofrimento. Ao pensamento vinha-lhe aquela frase que um dia leu num daqueles livros velhos que o avô recomendava: “Todos somos responsáveis de tudo, perante todos”.
Mas que teria ela feito e a quem o teria feito para ser dela tamanha responsabilidade? A culpa chegava-se, rastejando. Sabia que tinha sido ela a sonhar aquela viagem. Fora ela, ninguém mais, quem passara horas em frente de mapas e guias para preencher o mais possível aqueles vinte e um dias. Vinte e um dias parecem uma eternidade quando se têm punhais cravados no peito. A culpa continuava, sorrateira, a pressionar o metal para que nunca deixasse de lhe doer.
Era dela aquela responsabilidade, via-o agora claramente. Naquela noite, quando a aconchegou nos braços e lhe pediu com toda a sua vontade que ficasse, era já a culpa do abandono que a matava. Depois de tanto que dela tinha recebido estava a abandona-la para morrer sozinha.
No caminho para casa, por entre soluços e penas tinha decidido a fazer justiça à frase do livro do avô. Fazer-se responsável! Nesse dia decidiu privar-se, até data indefinida, de algo que lhe era quase natural fazer. Teve fé que o sacrifício a tornaria responsável, pelo melhor, esperava. Pelo que tanto desejava. Não fez e não fez e não fez. Estava tudo ali á distância de um dedo e mesmo assim ela não o fez. Foi forte, foi dura, foi mártir pela sua causa.
Durante a viagem, perante a imagem avassaladora de um Homem que, também ele, se sacrificaria pela sua causa, prometeu. Renovou os votos da promessa. Quis muito. E continuou sem fazer, não o fez nunca mais até à volta.
E no regresso, no abraço doente do regresso, tudo o que ela tinha pedido, tão fortemente desejado… Tudo pelo que se tinha sacrificado estava ali. Ela acreditava agora que era sua a responsabilidade daquele abraço ainda vivo. Tinha conseguido. Era tão dela como sua aquela vitória. Aquele abraço. Aquele calor, aquele olhar transbordando ternura como nunca mais viu. Era dela, porque teve força e vontade e sacrifício.

Estava decidido. No calor de uma noite de domingo. Neste Verão depois de três anos, estava decidida a não mais o fazer. O sacrifício estava à mesma distância. O mesmo dedo a separava de tudo quando era preciso fazer para ser responsável pelo que tanto desejava agora. Foi à varanda; fumou o único cigarro da semana. Sorriu, chorou e olhando aquele firmamento estrelado igual ao que a viu crescer, prometeu. Privar-se-ia a partir daquela noite. Todas aquelas areias cintilantes do deserto de escuridão que era aquela noite foram suas testemunhas. Não mais, nunca mais, até regresso nenhum. Acabar com aquilo. Sacrificar a curiosidade sórdida que se lhe havia povoado a alma. Renunciar ao conhecimento penoso. À náusea da injustiça.
Na verdade o que se propunha não era um verdadeiro sacrifício. Era-o para ela, sim; mas não para a sua alma. Sacrifício era continuar naquilo. Mas estava acabado. Em definitivo. Era o fim.
Nessa noite, ontem, tornou-se responsável de tudo, perante todos. Perante si.

ss

8 de julho de 2009

Aquele Livro nesta manhã.

Hoje acordei cedo demais e com uma passagem daquele livro na cabeça:

Estava curado - mas não feliz.

Adoro mesmo aquele livro que já adquiri num alfarrabista sexy do Porto e cujo original também já comprei numa Fnac parisiense!
Não vejo a hora de o ler, em francês, na minha varandinha soalheira!

Ler livros, bons livros, é um vício.
Mais forte que isso só roer as unhas
e os dedos.

ss

2 de julho de 2009

Outra vez a minha Maria

Tinham ficado os planos para Junho. Eram planos delineados com carinho, o mesmo carinho que nos fez sair de casa, cheios de sono para nos fazermos à estrada. Novamente até à Régua. Por esse serpentear do rio, esse verde de vinha farta de folhas.
Em Maio a tia estava doente. A gripe atacava-lhe o corpo velho e fraco. Mas a fé? Essa era inabalável. A tia, a minha tia Maria, tinha uma promessa à nossa senhora dos Remédios. E a tia, a minha tão terna tia Maria, não queria morrer sem pagar a promessa que tinha feito. Disse-o assim, com esta capacidade de desprendimento da vida. Esta tia que eu nunca tinha ouvido falar do fim. Esta tia que eu pensava que nem tinha fim…
A promessa era dura demais para ser cumprida por alguém com aquela idade. A promessa era tão dura quanto a vida lhe foi. E ela aguentou. Insistimos,ainda assim, que aquele sacrifício de joelhos é demasiado para a idade dela. Que a Santa decerto compreenderá que a promessa seja paga por outra pessoa. Mas àquela tia ninguém a demove, ninguém lhe tira da ideia o que ela já tem na ideia. É teimosa, é rija e, mais que tudo, tem fé.
Eu tinha saído de casa preparada para fazer de joelhos os metros ou quilómetros que fossem necessários. Fá-los-ia com fé na fé da tia. Não há em mim fé na Santa. Nem nesta, nem em qualquer outra. Sou uma pessoa de esperança, mas não uma pessoa de fé. Não era muito o que tinha para oferecer à tia… Mas pedi-lhe, roguei-lhe que me deixasse pagar por ela a promessa que tinha feito. Que pagaria com gosto e com essa tal de fé. Que o faria porque gosto dela, muito, e porque o sacrifício a que se propunha era um sofrimento para mim.
Mas a esta tia ninguém a demove. Ela acha que pode. Ela pode, e por isso quer e vai fazer o que prometeu, independentemente do que lhe possa doer…
Apertei-lhe, com uma guita, um pano grosso à cintura (tão fina). E aquele corpo velho, magro e cansado ajoelhou-se diante de mim. Só a minha mão, era o que ela queria, uma mão e uma companhia. Não queria pena ou pesar. Queria uma mão. E eu dei-lha, apertei-lha e senti-a penar a cada passo do seu sacrifício.
Fiz todo o caminho ao lado dela. Senti no braço o fraquejo das pernas cada vez que havia um degrau a subir. As lágrimas caíam-me sem ela ver. Caíam e caíam porque nada mais eu podia fazer do que dar-lhe a mão. E o meu coração apertava-se. O do meu pai também. Ele que caminhava ao lado da tia, em pé, mas sentindo a mesma penitência.
Que força é esta que move uma velha de 80 anos perante tamanho sacrifício? Que força é esta a da fé? Tudo isto é incompreensível aos olhos de quem não acredita, de quem não sabe, nem sente o que é a fé. Mas não deixa de ser comovedora e até inspiradora esta luta com o corpo. Esta fé no sacrifício…

Foi inesquecível esta viagem a Lamego, esta viagem ao munda da tia Maria. Da minha tia Maria. E voltar àquele vale, àquela vinha, às flores e às sementes já separadas para mim (ainda que ela saiba que agora estou em França! A tia não se esquece de nada). Tudo isto, todo este dia, em família, volta a encher-me a alma de qualquer coisa que não sei nomear mas que poderia ser fé na vida.
A Maria, a minha (tão inspiradora) tia Maria sabe já de cor os dias das eleições:
- Calha nas Vindimas as pró governo
E vai votar (se Deus quiser, diz ela) que não se deixa para os outros a decisão.

A minha tia Maria tem mais planos:
- Fazer o Douro de barco até Espanha, interessa-vos?
Eu tenho uma tia.
E tenho fé (à minha maneira).
Fé que a vida nos vai permitir mais uma viagem.

ss

18 de junho de 2009

Hoje lembrei-me de NYC

E do que nevava lá fora quando estávamos no Guggenheim...
Já sonho lá voltar.

ss

13 de junho de 2009

Música do mundo

A sapiência do senhor boliviano que me (en)cantou ao jantar:

No necesito silencio
yo no tengo en quién pensar.
Tenía, pero hace tiempo
Aura ya no tengo más
Atahualpa Yupanqui

ss

10 de junho de 2009

Dia de Camões

Quem diz que Amor é falso ou enganoso,
ligeiro, ingrato, vão, desconhecido,
sem falta lhe terá bem merecido
que lhe seja cruel ou rigoroso.

Amor é brando, é doce e é piadoso.
Quem o contrário diz não seja crido;
seja por cego e apaixonado tido,
e aos homens, e inda aos deuses, odioso.

Se males faz Amor, em mi se vêem;
em mi mostrando todo o seu rigor,
ao mundo quis mostrar quanto podia.

Mas todas suas iras são de amor;
todos estes seus males são um bem,
que eu por todo outro bem não trocaria.

Luís Vaz de Camões

ss

7 de junho de 2009

História de um gato aos quadradinhos

Chove contra a minha janela. Diluvia.

A mala está feita, amanhã deixo esta minha casa das palmeiras.
Há raios a iluminar o céu. Ainda assim, porque é o última noite neste citéa, desço até as palmeiras.Estou encostada a uma parede para fugir à fúria das nuvens e do vento. Acendo um camel. Pensava-me sozinha mas há um pequeno amigo que partilha comigo o medo.
Um gato. Um gato preto, daqueles que dizem dar azar, roça-se sedutoramente nas minhas pernas. E fica.
Senta-se a meu lado como que a contemplar a chuva, como eu.
Sento-me para ficar mais próximo do animal que me brindou com tamanho mimo. E ele deixa-se ficar. Aproxima-se um pouco mais até.
Afago-lhe a cabeça e mimo-lhe as orelhas. Ele ronrona, acho que gosta. Fotografo-o. Faz-se desentendido, não olha para a máquina fotográfica.E quando há um relâmpago que irrompe no céu amarelado pelos candeeiros ele tem medo, como eu, e esconde-se nas minhas pernas. Usa o meu corpo para se proteger. Tem medo da chuva, tem medo das nuvens que tanto gritam esta noite.
Eu, com ele aqui encostado a mim, não tenho medo.
Fico.
Deixo-me ficar até a tempestade amainar e o meu amigo desaparecer da mesma forma que me apareceu.
Do céu.

ss

12 de maio de 2009

Uma carta


Porém cantar é ternura
escrever constrói liberdade
e não há coisa mais pura
do que dizer a verdade.

José Carlos Ary dos Santos


Hoje escrevi-te uma carta. Uma carta de amor. Ridícula como todas as cartas de amor.

É enorme. Pura, quase límpida.

Tão íntima, tão minha, que morreria se alguém a lesse.

R i d í c u l a!!

Exacerbada

e ao mesmo tempo tão fiel.


Vou adorar lê-la daqui a uns tempos, quando for já outra pessoa. Quanto tudo o que escrevi for um lento flutuar no qual prespassarão, como ao longo de um sonho, as imagens da tua ausência, do desencanto, da violência desta tristeza.


ss

27 de abril de 2009

Sons ao entardecer


Like moses has power over sea, s
o you've got power over me!
coldplay


E isso não é necessáriamente mau!


ss

25 de abril de 2009

#1 Lisboa

Este ano eu queria Lisboa!! Queria o largo do Carmo, queria aquelas ruas e aquelas árvores com história. E Lisboa recebeu-me, com abraços apertados e sorrisos tão familiares.
Este dia é, sem margem para dúvida, o dia mais importante do ano para mim. É-o de uma forma tão inexplicável que já não me canso a dissecar as possíveis razões.
25 de Abril é o telefonema para os avós, é o cravo na lapela do avô… são os cravos por toda a casa... Mas é ainda tanto mais: é um sorriso com mais vontade, é um suspiro mais fundo.

Mais uma vez a vida me sorri e, como eu queria, ouvi e cantei a Grândola Vila Morena em plenos pulmões. E cantei o Depois do Adeus, com as lágrimas sufocadas nos olhos vermelhos. Depois veio a Tourada, do Ary dos Santos, que para sempre será o meu poeta (ou não tivesse morrido no mesmo dia em eu nasci).
Quando o cansaço venceu, caminhamos até ao terreiro do paço, e naquelas velhas arcadas apanhei o último táxi em Lisboa.

Já fiz mais um check na minha lista de despedidas. E esta foi deliciosa! Sem a angústia de quando voltar... Despedi-me dos Jerónimos e dos meus tão amados Pasteis de Belém. E fi-lo com quem mais queria fazer. Com quem tinha mesmo que fazer. Houve ainda tempo para um momento fotográfico “Starbucks!!”. Deitei-me mais uma vez na relva do CCB, onde tantas vezes sonhei viver em Lisboa, com vista para o Tejo. Despedi-me da Festa da Música onde tantas vezes adormeci e sonhei como ia ser quando fosse crescida. Tantas amizades aqui cimentei...

Levo ainda comigo a mais bela vista sobre a noite em Lisboa: o Castelo, a Sé, a Ponte 25 de Abril, o Cristo, o Tejo. E o Bairro… as ruas cheias de gente. Os cravos nas mãos.

Com o cerrar das pálpebras, o Rossio, o bolo de cenoura e chocolate no Chiado, a tosta carérrima na Brasileira, o abraço a Pessoa, os passeios pela Avenida da Liberdade, o MP3 gritado cá do fundo, a Assembleia da República, as corridas de bicicleta no parque das nações, os finos no Clube dos Loucos e Sonhadores, a vista arrebatadora do Adamastor, Alvalade e as correrias, o meus tantos e tão bons concertos, o risoto de camarão (com açafrão!)… estão todos cá! E a despedida fica completa com o acenar de mão. O até sempre.

São 7h30 na madrugada de mais um 25 de Abril.

Não sei quando me voltarei a despedir de alguém nesta cidade. Não sei quando volto a esta Gar do Oriente.
Fica a vontade do reencontro.
Levo comigo a Saudade.

SS

18 de abril de 2009

Maria

A noite tinha sido curta.
Eram 8h30 e já estava à porta de casa embrenhada num nevoeiro gélido de Abril. Levava um sumo no bolso e duas bolachas enfiadas na boca.
Vila Real agora é tão perto!
As maias e ­­­­­tojo vão pintando todo o caminho de amarelo. É Primavera e os montes estão coloridos de flores. Vêm-me à memória aquelas viagens ao Alentejo nas férias da Páscoa, onde o verde dos montados era interrompido pelo vermelho das papoilas, pelo amarelo dos malmequeres, e o rosa arroxeado dos cardos. Mas isto não é Alentejo: é Trás-os-Montes. É Douro (o meu Douro).
Depois de atravessar um pouco de chuva no Marão, Vila Real aparece iluminada por entre as nuvens cinzentas e farrapinhos de azul. Com o serpentear da estrada ia crescendo a angústia. Sabia porque ia; porque tinha dormido tão pouco. E ao pensar no que ia encontrar as lágrimas queriam escorrer-me pela cara. Mordia os lábios. Cerrava os dentes…
Fazemos um reforço de pequeno-almoço. Respiro fundo o ar gelado da serra e sinto-o a queimar na cara. Há mais caminho para percorrer. Precisamos chegar ao rio: o destino é a Régua.
Tenho uma tia. É uma tia-avó, irmã de uma avó que já não tenho. É uma tia linda que vive em Travassinhos, Santa Marta de Penaguião, bem na fronteira com a Régua. É dona de todo um vale, que se lhe entra pela janela. Leiras e leiras de vinha que mudam de cor a cada estação do ano. E uma cerejeira velha, quase tão velha como a minha tia. A Tia Maria. A minha Tia Maria.
Esta nova auto-estrada é a mais bonita de Portugal.
A vista para o Douro vinhateiro é magnífica e mais do que vê-la, adoro ver o entusiasmo do meu pai a chegar à terra.
Quando era mais pequena não gostava de ir a essa terra. Porque a casa de banho ficava na loja, porque não havia água quente, porque tudo tinha um aspecto menos limpo do que eu estava habituada, porque o cheiro a vinho, ou uvas, ou algo entre os dois pairava sempre no ar. Mas gostava da Tia Maria. Gostava da forma como ela me apertava, da maneira como me mimava. Gostava até do cheiro dela, a velha. E dos longos cabelos brancos que nunca vi senão devidamente apanhados. Gostava da mancha que ela tem na ponta do nariz.
Vim o caminho todo a fitar as giestas brancas na paisagem. Não há destas maias na Maia. É definitivo: gosto das giestas brancas. Gosto muito e nem sei porquê.
Continuava angustiada com a viagem e na minha cabeça começavam a crescer ventos como aqueles que vinham do Marão. Desde que me conheço tenho horror a escolhas difíceis. Nunca gostei de ter que optar por uma ou outra coisa que gosto. Se gosto das duas, então quero as duas! Há-de haver sempre uma forma de as conciliar. E muitas vezes estive em dois aniversários na mesma noite, muitas vezes estive em concertos consecutivos, em locais distantes. Muitas vezes conciliei pessoas inconciliáveis. Muitas vezes não dormi para ter bons momentos e boas notas. E a vida sempre me foi favorável. Até hoje poucas vezes tive de abdicar de algo que quisesse mesmo ter ou fazer, estar ou ser.
Mas a minha vida está numa nova fase, mais ingrata, mais adulta, mais crua. É chegada a altura em que não me vai ser possível tudo. Não há comboios tão rápidos, não há horas tão longas, nem dias só meus. A minha angústia é essa mesmo: é a conciliação de tudo que eu quero, de tudo que eu gosto, de tudo o que eu preciso, de tudo que eu tenho de fazer.

Já se viam as águas do Douro, mas Travassinhos é um pouco mais acima. Há que subir socalcos por ruelas apertadas e despovoadas.
Passam poucos minutos do meio-dia e a tia já espreita pela janela por onde lhe entra o mundo todos os dias.
A Tia Maria, a minha Tia Maria.
A minha Tia Maria que me aperta como ninguém e me olha como ninguém. Em mais nenhum olhar vejo o orgulho que vejo nela. Sei que me adora. Sinto que me adora. E por isso tinha de vir. Por isso queria tanto vir.
A Tia Maria nunca foi casada, não queria homem para mandar nela. Não sabe escrever mais do que o próprio nome, mas aprendeu a ler pelo livro da catequese… porque queria saber todas as orações do senhor. E porque queria ler os livros de que os irmãos falavam. E leu-os. Maria era a irmã mais velha e nunca foi à escola porque tinha de ajudar a mãe a cuidar dos mais novos. A Maria tratou do campo e da vinha toda a vida. Cuidou da mãe, e depois do pai. Cuidou da casa. A Maria, esta mesma que me agarra a mão com vontade, continua a comer o que planta e colhe, e cuida da sua vinha, qual tesouro precioso. Tem o rosto gasto pelo tempo e pela vida dura de quem carrega mais do que um homem valente devia carregar. Mas é doce e delicada: aprecia e cultiva flores de todas as espécies, feitios e cheiros. E conhece-as pelos nomes. Sabe como e quando regar; sabe a época do ano em que vão espevitar. Recolhe sementes e guarda-as para me dar...
A Tia Maria fez hoje 92 anos mas não se esqueceu de nada. Têm a cabeça mais fresca que a minha e sabe todas as datas que lhe são importantes de cor. A Tia Maria usa calças (porque são de mais aconchego para o vento Sudão) e não acha mal que haja divórcio. A Tia Maria faz-me chorar, só de a ouvir contar as histórias de quando o meu pai era pequenino e lhe roubava o mel das colmeias. A Tia Maria enche-me de orgulho e de emoção quando me fala do meu rio: o Douro, o meu Douro. Aquele que me sabe a casa a cada sexta-feira.

Hoje cantei os parabéns à Tia Maria. Tinhamos um bolo e duas grandes velas vermelhas. A velha Maria bufou as velas pela primeira vez na vida e chorou, comovida, abraçada a nós. Os quatro brindamos com vinho generoso da terra.

A minha Tia Maria encheu-me o coração. E mesmo que a angústia de não a ver mais me faça chorar todo o caminho de volta, ficam os planos para Junho! E eu cresço mais um bocadinho, e aprendo mais um bocadinho do que é a vida, a família, e o ter uma profissão.
ss

10 de abril de 2009

Tenho sempre o Jamie para ouvir...

(...)
So tenderly
Your story is
Nothing more
Than what you see
Or
What you've done
Or will become...
Standing strong
Do you belong
In your skin...
Just wondering

Gentle now
A tender breeze
Blows
Whispers through
The Gran Torino
Whistling another
Tired song

Engines humm
And bitter dreams
Grow
A heart locked
In a Gran Torino
It beats
A lonely rhythm
All night long
(...)
(Gran Torino; Jamie Cullum, Clint Eastwood)

8 de abril de 2009

"Catch the sun,before it's gone"

Gosto mesmo destas tardes ensolaradas em que me sento à varanda e a música se mistura com os pássaros até à hora do jantar.
Gosto de estudar sentada no chão, com as pernas apoiadas na floreira (da qual é minha função cuidar)!
Gosto da pele quente e das rugas que ganho a ler com tanta luz.
Gosto da nortada a enviar-me folhas para locais estranhos (que incluem o jardim do vizinho).
Gosto de verdinho fresco das árvores a despontar para um novo ciclo.
Gosto da minha laranjeira carregadinha de flores que cheiram maravilhosamente e que, um dia, vão dar laranjas (que vão ter gominhos!).
Gosto do cheiro a terra ainda molhada.
Gosto do Sol e gosto do Jamie!

Every day it comes to this
Catch the things you might have missed
You say, get back to yesterday
I ain't ever going back
Back to the place that I can't stand
But I miss the way you lie
I'm always misunderstood
Pulled apart and ripped in two
But I miss the way you lie

Catch the sun, before it's gone
Here it comes, up in smoke and gone
Catch the sun, it never comes
Cry in the sand, lost in the fire

I never really understood
Why I didn't feel so good
But I miss the way you lie
I've always been up and down
Never wanted to hit the ground
But I miss the way you lie

Catch the sun, before it's gone
Here it comes, up in smoke and gone
Catch the sun, it never
Cry in the sand, lost in the fire
(Jamie Cullum, Cathing Tales)


SS

21 de março de 2009

Porque hoje me lembraram que eu era Primavera

Obrigada óh promessa do ski!
És um bocado desta Primavera!!!


E porque nunca é tarde para ler o que me ofereceram no aniversário:

Juegas todos los días con la luz del universo.
Sutil visitadora, llegas en la flor y en el agua.
Eres más que esta blanca cabecita que aprieto
como un racimo entre mis manos cada día.
A nadie te pareces desde que yo te amo.
Déjame tenderte entre guirnaldas amarillas.
Quién escribe tu nombre con letras de humo entre las estrellas del sur?
Ah déjame recordarte como eras entonces cuando aún no existías.
De pronto el viento aúlla y golpea mi ventana cerrada.
El cielo es una red cuajada de peces sombríos.
Aquí vienen a dar todos los vientos, todos.
Se desviste la lluvia.
Pasan huyendo los pájaros.
El viento. El viento.
Yo solo puedo luchar contra la fuerza de los hombres.
El temporal arremolina hojas oscuras
y suelta todas las barcas que anoche amarraron al cielo.
Tú estás aquí. Ah tú no huyes
Tú me responderás hasta el último grito.
Ovíllate a mi lado como si tuvieras miedo.
Sin embargo alguna vez corrió una sombra extraña por tus ojos.
Ahora, ahora también, pequeña, me traes madreselvas,
y tienes hasta los senos perfumados.
Mientras el viento triste galopa matando mariposas
yo te amo, y mi alegría muerde tu boca de ciruela.
Cuanto te habrá dolido acostumbrarte a mí,
a mi alma sola y salvaje, a mi nombre que todos ahuyentan.
Hemos visto arder tantas veces el lucero besándonos los ojos
y sobre nuestras cabezas destorcerse los crepúsculos en abanicos girantes.
Mis palabras llovieron sobre ti acariciándote.
Amé desde hace tiempo tu cuerpo de nácar soleado.
Hasta te creo dueña del universo.
Te traeré de las montañas flores alegres, copihues,
avellanas oscuras, y cestas silvestres de besos.
Quiero hacer contigo
lo que la primavera hace con los cerezos.

Pablo Neruda
Veinte poemas de amor y una canción desesperada
SS

17 de março de 2009

Conversas importantes…

As segundas nunca são dias bons. Tenho sono e ainda saudades do fim-de-semana. Mas esta segunda que começara em Paris (e com lágrimas) acabou com o coração cheio. Mas mesmo cheio: a rebentar pelas costuras. Acho que nunca ninguém me tinha dito nada tão bonito.

Sabes o orgulho que tenho em ti! Sabes! Já to disse. E saber que tenho algum tipo de intervenção (mesmo que mínima) na pessoa em que te transformaste… enche-me de orgulho, e carinho.
Um amor de amigo, como disseste…
Tenho-te muito!

Obrigada, obrigada, obrigada!!!

SS

11 de março de 2009

Bordeaux , Camels et Sinatra

I: Aeroporto de Lyon-Sait Exupery.
Encostada à modernidade, com uma eira de vazio para me acompanhar: aí estou, de óculos de sol a sentir a face torrar com a pequena aberta que a nebulosidade me concedeu. A ver os aviões a levantarem voo a uma cadência ritmada… Penso nos sítios em que ainda quero ir. A sonhar que posso voar agarrada a cometas... como só Principezinho podia. Sinto, finalmente, minha aventura (vulgo PhD) a começar. Além de dedos roídos e um cigarro esfumegante, sinto que tenho muito pouco. E à medida que os músculos se encolhem em resposta à nicotina que me entra no sangue tenho a certeza de que quero dar tudo…
Apetece-me cantar-te “Come fly with me! Lets fly, lets fly away!”

II: Hotel Citéa, junto da piscine.
Tenho os pés descalços e a gelar dentro das minhas sabrinas. O cabelo molhado e meio pijama vestido. Amanhã vou conhecer o meu futuro. E defini-lo, para breve ou para logo… O pânico começa a dissolver-se nas passas mal dadas. O frio é demasiado… a fome é avassaladora. As saudades do chão firme prendem-me ao banco de jardim.
Londres é longe daqui… e Portugal é tão quentinho.
Apetece-me sussurar-me “You aint seen nothin yet... The best is yet to come, babe! and wont that be fine”

III: Walking home... #1 day.
O local é excelente, as pessoas amorosas, o chefinho é um pequeno doce! A comida tem trago doce, e o campus é verde. Há Russian Earl Grey para beber a qualquer hora.
As fatias saem bem porque o mecanismo é magnético. As mossy fibers disparam bem: há facilitação.
Sei tão, tão, tão pouco…
ainda assim ganhei uma bicicleta e uma secretária à janela.
“Nothing the best is good enough for me”

IV: balcon à l'extérieur du laboratoire - zone fumeurs
Mil perguntas : chuva, praia, casa, preços, carro, cinema, o Verão, transportes públicos, as festas, comida, bicicletas, ski, os outros grupos, a cantina, o chefinho.
A manhã ou a tarde. Cerveja ou vinho. Coimbra ou Porto. Café ou Chá. Paris…
Carinho.
“Unforgettable, though near or far.
Like a song of love that clings to me, how the thought of you does things to me”


V: Chuva, palmeiras e piscine no Citéa
Voltam os pés descalços. O frio e o cabelo malhado. Aprendi tanto… vi tanto. Criei e atei laços (com força e com vontade). Sinto-me apaixonada e motivada. Amparada e mimada… e ainda assim sozinha e carente. Tenho tudo e falta-me tudo.
Queria abraços apertados e mimos (categoria 3.11).
Queria o meu sofá de Coimbra...
Fazes-me, em definitivo, muito falta.
E a Lua, lá está, descoberta a desejar.
Boa Noite
“I stand at your gate.
And the song that I sing is of moonlight.
I stand and I wait
For the touch of your hand in the June night.
The roses are sighing a moonlight serenade.
i
The stars are aglow.
And tonight how their light sets me dreaming.
My love, do you know
That your eyes are like stars brightly beaming?
I bring you, and I sing you a moonlight serenade.
i
Let us stray 'til break of day
In love's valley of dreams.
Just you and I, a summer sky,
A heavenly breeze, kissin' the trees.
i
So don't let me wait.
Come to me tenderly in the June night.
I stand at your gate
And I sing you a song in the moonlight.
A love song, my darling, a moonlight serenade”
i
ss

20 de janeiro de 2009

"Next year, things are gonna change"

O ano começou sem pé, mas com confétis. Sem calor humano, mas cheio de pessoas. O ano começou devagar, com oito passagens de ano. Oito meridianos de pessoas a desejar um 2009 cheio de alegrias e realizações.
Também eu tratei de eleger as minhas resoluções de ano novo: escrevi-as cá dentro. Domingo (podia ter sido um qualquer, mas era esse!), chegada a Coimbra, tratei de os passar para confétis. Os confétis de Times Square. Confétis que voaram entre prédios e luzes e vieram parar às minhas mãos de uma forma Serendipitiosa. Confétis que voaram, um de cada cor, ao som de John Lennon.
Imagine...
Passando por cima de toda a tristeza sou capaz de os escrever, tal qual os imaginei naquela noite gélida. Estão cá todos ainda, e continuo a quere-los muito.
E só mesmo usando a força da imaginação aguentarei esta semana… porque a mim, a cidade parece-me despida de qualquer encanto que alguma vez tenha tido (e tinha muito, mesmo muito!).
É horrivelmente impessoal e transpira insensibilidade. Está despida e não tem pudor.
É indiscreta.

Faz-me mal.

ss

 
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