28 de agosto de 2005

Sonho de Uma Noite de Verão II

Azul, muito azul que se foi fundindo em tons mais quentes, de um sol que se despedia. Não corria nem uma leve brisa, estava tudo calmo, parado! O negro cresceu e conquistou a totalidade do céu. Nunca tinha observado com tanta atenção o nascer da noite… As estrelas foram surgindo, primeiro as mais brilhantes, seguindo-se as mais distantes. A cada minuto pareciam mais… incontáveis pontos cintilantes que decoravam, ordenadamente, aquele manto de escuridão. O mar reflectia a lua, enorme, sedutora, mais bonita que nunca!! Olhei-te pelo canto do olho… Adormeceste!
Fico longos minutos a rever todas aquelas marcas que faziam de ti a minha estrela… Decido acordar-te, noutros tempos não o faria…
- “Estas a perder a melhor parte!!”
- “O quê? O banho?!”
No meio de gritos e insultos, já estamos os dois enfiados na água.

Foi enrolados na toalha, salgados e em risco de hipotermia que tivemos a melhor conversa de sempre. Não falamos de “nós”, porque o “nós” é que estragou tudo...Cada um falou de si e ouviu a opinião do outro. (Sim… irrita-me profundamente que conheças, melhor que ninguém, a minha pior parte. Sabes que a minha determinação é totalmente falível… Conheces o meu gigantesco medo de fracassar… ) Criticaste a minha falta de coragem para lutar pelo que mais quero, só pelo terror que tenho de falhar: “Oh Sílvia, algum dia tens de decidir se queres ser uma sonhadora conformada ou uma pessoa feliz. (…) Se ao menos ouvisses alguns dos bons conselhos que me dás... (…) Sabes qual é o teu problema? Exiges demasiado… queres tudo perfeito, mas na verdade consegues viver de pequeninas migalhas. Um sorriso basta para te encher o coração e te lançar numa espera angustiante pelo próximo sinal de que o teu sonho é possível… E o que eu realmente não compreendo é como é que tu vais sobrevivendo assim… como é que, “sem nada”, acordas de manhã cheia de força para um novo dia, para uma nova espera… sempre com todo esse amor para dar!”

Inevitavelmente acabo a noite a chorar, porque no fundo sei que sou tudo aquilo que dizes e não encontro em mim força suficiente para o mudar. Enfim, agora haverá mais pessoas a conhecer a minha parte “má” o que me pode ajudar a encontrar a coragem necessária para me mudar… ou não.

Nunca tínhamos conversado sobre mim, era sempre eu a apontar-te os erros, os defeitos… Esta noite pude ver e sentir, claramente, que talvez tenhas sido o fruto do meu único momento de coragem… E que, o que eu vi como fracasso é, na verdade, um grande tesouro, que por pouco não soubemos preservar. Orgulho-me muito de ter gostado tanto de ti… Porque afinal, as estrelas, mesmo depois de mortas, continuam a brilhar… e tu hoje brilhaste mais que qualquer outra...


SS

24 de agosto de 2005

Sonho de Uma Noite de Verão I



ss Posted by Picasa

10 de agosto de 2005

2005

Hoje li uma notícia onde o ano de 2005 era “acusado” de ser um dos piores dos últimos tempos para Portugal. Ora, a mim pareceu-me uma acusação bastante injusta e dou aqui a minha contribuição para a defesa de 2005…

“Dia 1 de Janeiro! São 8 horas em ponto. A manhã está a acabar de nascer, a luz é ainda muito leve... O silêncio é quebrado pelas ondas que ameaçam chegar a alguns dos que se ficaram pela areia da praia. O meu expresso ainda demora 30 minutos, por isso decido sentar-me um pouco. O cenário, quase bélico, é de corpos espalhados por entre destroços de garrafas e latas vazias semi-enterradas na areia. É a primeira manhã do ano. Estou sozinha, a mais de duzentos quilómetros de casa... Mentira, tenho por companhia um pequeno batalhão de gaivotas que decidiu pousar mesmo ao pé de mim... O silêncio da rebentação das ondas é agora ocupado por uma série de intercomunicações que sou incapaz de decifrar, mas que vou ouvindo deliciada... O sono invade-me e lentamente a minha imaginação voa como aquelas gaivotas. Sinto-me a flutuar, de braços abertos com a brisa gelada de Janeiro a bater-me na cara... Como se pudesse mesmo ser uma gaivota vou-me sentindo a planar em direcção àquela linha ténue que une o azul mais claro da aurora ao azul agitado do oceano... Quem dera que fosse atingível! Apercebo-me do frio da manha e ao meter as mãos no bolso do meu casaco encontro uma uva... Acho que me esqueci de pedir um desejo!! Ou alguém me concedeu um 13 desejo... Ou talvez isto seja só uma uva e qualquer outro sentido que eu lhe esteja a dar é pura falta de sono! Ainda assim, sinto-me no direito de mais um pedido. Vasculho afincadamente os meus mais recônditos desejos e a única "coisa" que me ocorre é tão ridícula e repetitiva que me revolto contra a minha própria falta de imaginação... É triste ver-me aqui a censurar os meus próprios sonhos... a acha-los demasiado surreais, demasiado bons (mas são sonhos!!!!! Não era suposto os sonhos serem assim?) Decido levantar-me, porque já me vejo de lápis azul na mão a decidir o que devo ou não sonhar... Tento recordar-me se teria bebido muito, mas não! Não posso culpar o álcool por este meu devaneio mental.
Olho de novo para a uva e decido comê-la... sem pensar em nenhum desejo, nenhum sonho. Mas a frescura doce do sumo daquela uva esquecida devolve-me a coragem de sonhar… de te sonhar! E de repente, sem que eu te pudesse censurar, já estas no seu sonho… És o meu 13º desejo!

São 8h30… O meu expresso chegou e eu já tenho um sonho para 2005!”

E sim… esta é uma das páginas daquele meu cadernito!!

SS

 
Site Meter