14 de dezembro de 2006

Dois meses...

Quinta-feira. Estou no caminho de regresso a casa mais cedo do que seria normal numa semana de aulas. Os pais estranham, o irmão percebe.
É dia 14!
Dois meses…
Dois meses passaram desde que o ser que mais me amou na vida, morreu! Acho que ninguém compreende exactamente o que é amar um animal, mas que eu amei também a minha cadela com cada pedacinho meu capaz de o fazer, amei!!
Mentiria se não admitisse que é, sem margem para dúvida, a perda mais dolorosa de toda a minha existência. E não, não me digam que devia estar preparada, porque não há preparação possível para a morte de quem mais se ama. Não há frase ou pensamento que pudesse atenuar a visão do animal prostrado, de olhos semiabertos e fundos. Não há abraço que faça esquecer o toque do corpo frio e parado. Não há! Não há nada que nos possa preparar para o vazio, o nada, que é a morte.
Nessa noite, há 2 meses, abracei-a com toda a força pela última vez. Como pode alguém estar preparado para o último abraço?
Era uma cadela velha, doente e cansada. Ainda assim esperou até onde lhe foi permitido e morreu num sábado…
Esperou por mim, como me tinha prometido!!!
E eu pude coser um pano branco em seu redor como sempre pensei que faria… e por cada ponto que dei repeti que a amava e relembrei a nossa vida conjunta:
16 anos!!
16 anos de aventuras, momentos, angústias, ternura e compreensão. 16 anos de uma amizade mais forte do qualquer outra, 16 anos de uma confiança total. 16 anos de puro amor!
Dois meses…
Dois meses em que cada manhã dá lugar a uma lágrima travada ao olhar a sua fotografia, que sou incapaz de retirar de qualquer um dos meus dois quartos.
Dois meses em que não houve sequer uma noite em que não a tenha recordado por entre lágrimas e soluços apertados para que ninguém oiça.
Dois meses recheados de momentos (tão desejados), mas que não pude saborear na totalidade, porque esta tristeza intrínseca me seca o coração.
Não me quero dar a essa tristeza e luto, luto todos os dias para sair do quarto com um sorriso e um bom dia “suculento” pronto para ser desejado. Mas é difícil…. É tão difícil esconder de todos que ainda não consigo acreditar que a minha “Fofa” já não me espera, todos os fins-de-semana.
Dois meses…
Dois meses desde que coloquei o primeiro pedaço de terra que cobriu todo o seu corpo aconchegado na mortalha que lhe fiz. Desde então o jardim passou a ter um local mais especial, que gosto de olhar sempre que chego depois de cada semana.
O que mais custa são as saudades do toque do pêlo macio; as saudades de entrelaçar as suas orelhas por entre os meus dedos e de as sentir quentes. Que saudades do seu nariz molhado a encostar-se ao meu!! Saudades do seu olhar de mimo e de ternura que me enchia a alma como nenhum outro. Saudades de tudo nela… saudades dela.
Saudades que não consigo afastar, porque não há como lembrar um toque macio ou um nariz frio. Não o sei fazer. Lembro-me sim de como tudo nela me fazia feliz e como não o tenho conseguido ser, desde que partiu.
Dois meses…
Dois meses depois de lhe dizer “Adeus”, plantei uma arvorezinha que dará flores na Primavera. Com pétalas brancas, como eu adoro! Uma planta que utilizará nos seus ramos as moléculas de que era feita. Não terá o seu brilho é certo, mas terá vida!
Vou recorda-la até que estas lágrimas se cansem de cair… E, a partir desse dia, Fofa será “só” a melhor memória que alguma vez terei guardado!

Dois meses…
Dois meses sem escrever.
Estes são os primeiros dois meses “do resto da minha vida” como me fizeram ver…
Mas ainda não aprendi a viver sem ela, a minha querida cadela!

ss

 
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