8 de abril de 2007

O peso e a leveza

O peso ou a leveza?
A leveza do peso ou o peso da leveza?
"O peso é atróz e a leveza bela?"

Há vários dias que me tenho ocupado em deambulações mentais sobre este tema. Sempre acreditei que uma vida ideal seria aquela em que o peso (leiam-se as relações humanas que vou estabelecendo) seria tanto que se tornava leve. Como se o peso e a leveza se conjugassem na perfeição para uma existência equilibrada e feliz. A vida seria então a busca de uma leveza dentro do peso. Porque o peso era real, estava mesmo lá, implacavelmente forte; competindo-nos a tarefa de o tornar leve, de fácil trato… saboroso até.
Olhando-me no interior sei que sempre senti que a minha vida era leve, tão leve que, por vezes, se tornava insustentavelmente leve e por isso me pesava. Porque no vazio da leveza as partículas do nada chocam ferozmente contra a mim. Magoam! Empolam ainda mais o nada que me preenche, esvaziam-me. As vezes sinto-me como um balão que de tão insuflado se perde do chão e flutua à deriva numa camada acima da atmosfera… onde falta oxigénio e faz frio. Muito frio. Não sou infeliz. De todo! Mas sinto falta do peso como um balão sente falta dos sacos que o levam ao solo quando precisa descansar. Sinto falta do peso como bússola que me oriente numa direcção (ainda que possa estar errada). Sinto falta do peso mesmo que este possa pesar demasiado. Para mim o peso é concreto e real, e a leveza pode não ser mais que uma sensação, prazerosa mas efémera. Numa queda livre, a leveza do nada pesa com toda a sua gravidade e precipita-me numa vertigem.
O problema é que a separar o peso sustentável do peso insustentavelmente pesado está uma barreira muito ténue que é facilmente transposta. Terei eu a capacidade de evitar o insustentável peso sem me perder na insustentável leveza do ser?Tenho medo (talvez terror) do peso demasiado, da prisão de um sentimento, das obrigações e convenções a que o coração me obriga. Tenho medo da dependência, do hábito. Tenho medo de tudo que me possa ser arrebatador e por isso privo-me. Então, independência e desobrigação conjugam-se na mesma equação que, não tem outra solução senão a Solidão. Se a leveza comporta nela o medo de voar, o peso faz-me ter medo de cair. Ambos me entorpecem. Flutuo na leveza com pânico do peso demasiado e perco-me do peso sustentável, daquele peso bom que adoça a leveza sem a tornar menos leve.
Porque fujo do peso a minha leveza tornou-se pesada! Insustentavelmente pesada de tão insustentavelmente leve.
Tenho vertigens!

ss

 
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