12 de junho de 2006

Novos Sons

É tão inexplicável doce esta sensação desembrulhar um novo CD: gosto sempre de o observar atentamente antes de lhe tirar o plástico. Detenho-me nos pormenores ínfimos como os números do código de barras ou a etiqueta do “preço verde fnac”. Hesito um pouco antes de arrancar aquela fina película que o protegeu, até ter chegado a mim. Faço-o com o cuidado de quem cumpre um ritual. Não é um procedimento sagrado, muito menos secreto, mas é um conjunto de gestos que transforma um CD igual a milhares (as vezes milhões) de outros em meu.
Depois vem a emoção de abrir a caixa e vê-lo pela primeira vez: um pequeno circulo de brilho prateado onde há sempre pequenas surpresas. Com um só dedo vou rodando-o na caixa até que as letras fiquem perfeitamente na horizontal. O título, os autores, a editora, tudo parece ter um encanto diferente quando o olho pela primeira vez. Cada um tem uma energia difrente, mas igualmente poderosa. Pressionando com o polegar o centro da caixa, vou percorrendo todo o perímetro daquele círculo que parece ter poderes magnéticos e capta toda a minha atenção. Decido então aplicar uma força numa pequena porção da borda, puxando-a para mim. Basta um pequeno som seco e já o tenho na mão: então demoro-me mais um pouco enquanto procuro a minha imagem no verso do CD, por entre as cores do “arco íris” que cada CD tem em si.
Ligar o leitor de CDs. Esperar (uma eternidade) até que a porta suba os centímetros suficientes para que possa encaixar o meu precioso circulozinho. Esperar mais longos segundos que volte a descer. Carregar naquele triângulo universalmente conhecido e ver o CD a bater a inércia começando o seu movimento rotativo… cada vez mais rápido.
Surgem os primeiros sons: recosto-me na cadeira, arranjando a melhor posição para colocar as pernas entrelaçadas uma na outra. Agora sou toda ouvidos!!!

É tão espectacularmente inebriante ouvir uma música, não pela primeira vez, mas pela segunda: e deixar a mente flutuar para a primeira vez que a ouvimos. De olhos fechados vou relembrando cada passo de dança, cada abanar ancas, cada agitar de braços, cada pressionar de teclas, cada expressão do interprete… O silêncio da plateia, que ouvia atentamente a nova canção, interrompido pelas palmas e outras manifestações de felicidade invade-me a mente. Seguem-se mais músicas, mais imagens arrepiantes de uma das melhores noites de sempre: canções cantadas no tom mais alto que me era permitido! A excitação de uma noite de Primavera com sabor a Verão, relembrada num abraço cantado que foi partilhado com amigos. E como é bom sentir o cheiro a novo das folhas que vou virando a cada música. As páginas escuras são alternadas com as páginas claras: todas num azul que se vai apresentando com diferentes intensidades. Páginas que se vão pintado aqui e ali com outros tons, alguns cantados, outros imaginados… sempre sob um mar de aço que não me permite sair deste sonho acordado.

De todos os dose pequenos momentos de descoberta que esta tarde me proporcionou, destaco aquele que deixou um sabor doce de beijo nos lábios, e que me deixou suspensa, até agora, na minha própria viagem deMente:

“I don’t want to be adored
Don’t want be first in line
Or make myself heard
I’d like to shine a liltle light
To shine a light on your life
To make you feel loved

No, I don’t want to be the only one one you know
I want to be the place you call home.

(...)

Just shine, shine shine
Shine a liltle light
Shine a light on my life
And worm me up again ”

SS

 
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